Nesta era
dos expressos, o velho cafezinho de coador volta a perfumar a cozinha. Além do
gostoso ritual de ‘passar’ a bebida e dos bons cafés agora à disposição, o café
fica mais do seu jeito. Escolha um coador e reúna os amigos
Café coado é
ao gosto do freguês. Os coadores dão à bebida características próprias e estão
voltando à moda entre os gourmets. Aos poucos, pelo mundo, esse café que toma
uns minutos para ser passado, é menos encorpado e não tem espuma, começa a recuperar o
espaço perdido para o expresso nos últimos anos.
O Paladar testou o mesmo café em aparelhos diferentes.
Coamos em filtro de papel, náilon e flanela para desvendar a influência de cada
um deles na bebida. Sem termômetros e balanças – de científico só as reações
químicas da água em contato com o pó para liberar os aromas guardados no grão e
os movimentos da mistura no coador para otimizar a extração.
É café feito no olho, medido a colheradas, com água mais ou menos na
medida (uma colher de sopa de pó para 150 ml de água) e em maior quantidade que
uma xícara, porque este é um método que permite compartilhar. “Uma xícara de
expresso nunca é exatamente igual a outra”, diz Ensei Neto, consultor de café. Aquilo
que cai no bule é.
Café bom,
quem diz é a língua, e ele pode ficar melhor conforme a preferência de cada um.
“Pela escolha do método, é possível intensificar a percepção do amargor ou
privilegiar a acidez, deixando-a agradável com a sensação do adocicado”, diz
Ensei. Os cinco métodos ao lado estão em escala de amargor. Do bule vermelho,
mais amargo, ao verde, mais adocicado.
Em geral, os
brasileiros gostam do trava-língua forte do cafezinho – feito com o pó na água,
cheio de compostos clorogênicos (tipo o gosto de jilós) e de cafeína, bem
adoçado.
A
preferência nacional pelos sabores fortes costuma ser apontada entre os motivos
para o crescimento do expresso. Mas isso está em mudança: desde que bons cafés
deixaram de ser apenas produzidos para exportação, os brasileiros passaram a
apreciar melhor o café e, paradoxalmente, os métodos que concentram sabores
(como o expresso) não são os melhores para perceber as qualidades da bebida. É
como se as partículas brigassem para chegar ao nariz e à língua. No café coado,
não há tanto congestionamento e as partículas ficam mais ágeis para o seu
prazer.
ANTES DE PÔR
O PÓ NO COADOR
Escaldar. É
preciso jogar água quente no filtro – seja ele de pano ou de papel – e no
recipiente em que o café coado vai cair antes de colocar o pó no circuito.
Água. O
ideal é usar água mineral, mas na prática, no dia a dia, pode-se usar água
filtrada. Use uma água que você beberia. Ou seja, se não toma água da torneira,
não faça café com ela.
Temperatura. Não
deixe a água ferver. Mas se ela ferver, não precisa jogar fora. É só
esperar esfriar um pouco.
Invista no
café. Não adianta fazer tudo direitinho e usar café ruim. Compre um bom
café já moído (em cafés, empórios e alguns supermercados) ou um moedor (a
partir de R$ 50) e moa o grão em casa. Se usar café em pó convencional, reduza
a quantidade indicada.
NO
CLÁSSICO, DE FLANELA, O PÓ VAI NA ÁGUA
O mais
amargo.
COMO FAZER |O
cafezinho clássico segue o método pó na água: esquente a água em uma caneca, acrescente
o pó, na proporção de 1 colher (sopa) para cada 150 ml de água e misture.
Mantenha a água no fogo, espere o pó subir à superfície, desligue o fogo, deixe
a mistura descer um pouco e então passe o café pelo coador de flanela.
O CAFÉ | Cafés
mais clássicos, com notas de caramelo e chocolate.
MOAGEM DOS
GRÃOS | Grossa, como grãos de açúcar orgânico, para reduzir a liberação de
substâncias que dão o amargor.
O QUE MUDA | Jogar
o pó na água quente intensifica a liberação de compostos que dão o amargo à
bebida. Como as tramas da flanela são mais abertas, os óleos essenciais do café
passam pelo tecido intensificando o amargor.
PARA QUEM | Os fãs do café clássico. E para
quem simpatiza com a ideia de recuperar a tradição. Adoce com uma lasca de
rapadura e tome em xícara de ágata.
ALGODÃO:
A ÁGUA VAI NO PÓ
Entre o
amargo e o equilíbrio.
COMO FAZER | O
pó deve ser acomodado no coador de algodão do Hario Woodneck. A água deve ser
despejada até que comece a gotejar embaixo. Então faça uma breve pausa para que
a água seja absorvida pelo pó. Aí é só despejar o restante da água fazendo
movimentos circulares e evitando as bordas para não deixar que se forme um
acúmulo de café centro do filtro. Depois de coado o café, é preciso girar a
jarra para oxigenar a bebida.
O CAFÉ | Cafés
com boa acidez e encorpado, com notas de cítrico e caramelo.
MOAGEM DOS
GRÃOS | Média grossa, para permitir a extração mais otimizada dos doces e
amargos da café, mas não permitir a passagem de resíduo.
O QUE MUDA | Assim
como no coador de flanela, as tramas permitem a passagem de óleos, mas neste
caso, como é a água que vai para o pó e não o pó que ferve com a água, os
compostos do amargor não se liberam tanto. O resultado é um café menos travante
e bem mais doce do que o típico cafezinho.
PARA QUEM | Amantes do coador de pano e do
design japonês.
O
NÁILON É O EQUILIBRADO
Equilibrado.
COMO FAZER | Acomode
o pó no coador de náilon na base de plástico. Dê uma batidinha para nivelar o
pó e faça uma pré-infusão: molhe o café até começarem a pingar as primeiras
gotas. Espere um instante e despeje a água com intensidade e movimentos
rápidos. As ranhuras da base não são altas, mas são densas e criam um fluxo
constante de água. Seu formato (de cone sem ponta), cria uma turbulência em
direção ao meio do coador, acumulando pó ao fundo. O buraco por onde cai o café
é pequeno, daí a importância de manter o fluxo rápido para que a água permaneça
menos tempo em contato com o pó, o que amarga a bebida. Como as tramas do
náilon são ligeiramente abertas, quanto mais rápida a passagem da água, menos resíduos
passarão para a bebida.
O CAFÉ | Cafés
com boa acidez, corpo e notas cítricas e de caramelo vão bem nesse método.
MOAGEM DOS
GRÃOS | Média, para minimizar a passagem de resíduos pelo coador.
O QUE MUDA | A
bebida fica equilibrada, com amargor, acidez e doçura equivalentes. Como a
moagem ideal para o método é a média, a reação da água com o café é menos
intensa. Do mesmo modo que há menos amargor, há também menor concentração de
açúcares e acidez.
PARA QUEM | Para todos. É o método com a
extração mais equilibrada e os equipamentos mais facilmente encontrados.
DE
PAPEL, MAS TIPO ORIGAMI
Entre o
equilíbrio e o doce.
COMO FAZER | Primeiro,
arme o coador, que vem dobrado em quatro: abra uma aba de modo a fazer um cone
(que terá uma camada numa extremidade e três na outra). Ponha o filtro no
Chemex, cuidando para deixar as três camadas paralelas ao bico – isso evita que
o filtro grude impedindo a saída de ar, o que atrapalha a descida do líquido.
Ponha o pó, dê uma batidinha para nivelar, faça a pré-infusão, espere um
instante e despeje a água evitando as laterais até que a mistura fique dois
dedos abaixo do topo. Espere descer e despeje o restante da água, com
movimentos circulares intensos buscando as laterais.
O CAFÉ | Cafés
com notas de especiarias.
MOAGEM DOS
GRÃOS | Média para fina. O filtro de papel grosso retêm parte dos óleos do
amargo, deixando a bebida mais suave.
O QUE MUDA | Como
o filtro não tem ranhuras, o café demora para passar pelo coador e fica mais
amargo que o coado no náilon, mas há também liberação de açúcares, que deixam a
bebida equilibrada.
PARA QUEM | Os fãs de rituais – preparar o
filtro, escaldar, coar, compartilhar toma uns bons minutos, durante os quais dá
até para aproveitar a deixa e contar que a jarra, desenhada do químico Peter
Schlumbohm em 1941. está no acervo do Museu de Arte Moderna de Nova York.
TAPINHAS
PARA ASSENTAR O PÓ
O mais doce.
COMO FAZER
| Você pode usar um filtro de papel comum adaptado no suporte de cerâmica
do tipo Hario V60, mas terá de adaptá-lo para que fiquem em formato de cone:
dobre as duas laterais do filtro (um dedo de largura de cada lado), a ideia é
fazer um bico na ponta. Ponha o café, dê uns tapinhas nas laterais para
assentar o pó. Despeje a água para fazer a pré-infusão, depois que as gotas
pararem de cair, despeje uma parte da água em movimentos circulares lentos,
evitando as bordas. Quando a mistura chegar quase ao topo, espere até que desça
quase totalmente e só então volte a despejar água, desta vez, buscando as
bordas. É fundamental que o fluxo da água acompanhe as ranhuras do V-60, em
sentido horário.
O CAFÉ | Cafés
com notas mais efêmeras, como as florais e boa acidez.
MOAGEM DOS
GRÃOS | Moagem média para fina, como um grão de sal. Como o café é
extraído rapidamente, vai pouco amargor para a xícara, exaltando-se os doces e
ácidos.
O QUE MUDA | Na
extração, a água fica pouco tempo em contato com o pó e extrai-se mais açúcares,
o que deixa a bebida mais equilibrada e agradável.
PARA QUEM | É o método que entrega o café
menos amargo, mais doce. É bom para treinar o paladar na identificação de
sabores que normalmente são escondidas pelo amargo.
Fonte:
http://paladar.estadao.com.br/noticias/bebida,aqui-tem-cafe-no-bule,10000010529