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terça-feira, 14 de junho de 2022

TOBACCO: UM POUCO DA HISTÓRIA DA HABANOS S.A.


A Habanos S.A. é a empresa responsável pela produção e comercialização dos charutos cubanos em todo o mundo. Mas, para conhecer um pouco mais da história desta que é a empresa líder mundial no segmento de charutos premium, temos que voltar à época do descobrimento da América.

O primeiro registro oficial sobre o tabaco foi feito em 1492, quando Cristovão Colombo chegou às Américas. Tentando encontrar um novo caminho para chegar à Índia, onde o comércio de especiarias gerava grandes fortunas, ele acabou por desembarcar no dia 28 de outubro daquele ano em Cuba.

Dois homens de sua tripulação – Rodrigo de Jerez e Luis de Torres – foram enviados para explorar a região e, retornando, fizeram relatos sobre os índios taínos que “tinham tochas nas mãos e ervas das quais inalavam à fumaça, ervas secas dentro de uma folha, igualmente seca. Acesas na ponta, são chupadas ou aspiradas, o que lhes entorpece a pele e é quase intoxicante, e dizem que dessa forma jamais sentem fadiga”. Esses charutos primitivos eram chamados de cohiba na linguagem desses índios, nome que hoje representa a principal marca de charuto cubano. Desde então, o tabaco cubano passou a ser apreciado em todo o mundo e os charutos produzidos no país viraram referência, sendo considerados os melhores charutos do mundo.


A relação entre Cuba e o tabaco é tão estreita que os puros, como são chamados os charutos na Ilha, são reconhecidos como um dos itens de identidade nacional e são motivo de orgulho para o povo cubano.


Em 1962, após a nacionalização da indústria cubana de tabaco cubana por Fidel Castro, todas as marcas passaram para o controle do Estado, assim como as fazendas e os centros de produção e distribuição. 

Para administrar esse mercado, foi criada a Cubatabaco. A empresa se tornou responsável pela produção e pela comercialização dos charutos cubanos no país e no exterior até 1994, quando foi fundada a Habanos S.A. A nova entidade foi responsável pela modernização da produção e foi fundamental para a expansão do alcance dos charutos a partir do desenvolvimento de uma rede de distribuição mundial.

A palavra habanos, no espanhol, significa algo de Havana. Ela ficou tão vinculada aos charutos cubanos que passou a ser utilizada nos países de língua espanhola para descrever o produto. Acabou tornando-se também o nome perfeito para batizar a nova companhia.

Na virada do milênio, a Altadis comprou 50% da empresa ficando os outros 50% ainda no poder da Cubatabaco. A entrada da gigante franco-espanhola (em 2008 a Altadis foi comprada pela inglesa Imperial Tobacco) do mundo do tabaco na sociedade colocou a fábrica em novo patamar. Um novo modelo de gestão foi implantado com melhores práticas de marketing e de produção. A partir de então, foi feita uma reestruturação nas linhas e bitolas oferecidas pela Habanos, assim como a criação das Edições Limitadas e outras linhas mais especiais. Hoje a companhia comercializa 27 marcas premium, elaboradas totalmente à mão, e possui algo em torno de 220 bitolas comerciais.


A empresa é responsável também pela marca La Casa del Habano. Esta rede internacional de franquias é mais que uma rede de tabacarias. As La Casa del Habano são verdadeiros centros dedicados a promover uma experiência completa relacionada ao tabaco.

A Habanos S.A. promove o maior festival de charutos do mundo, o Festival del Habano. O evento, que já teve 18 edições, acontece todos os anos, em fevereiro, e é muito aguardado pelo mercado e pelos aficionados, já que é lá que os lançamentos da empresa são divulgados e apresentados pela primeira vez.



Texto extraído de: http://carusolounge.com.br/blog/um-pouco-da-historia-da-habanos-s/
Fonte Imagem:
https://bulldogtabacaria.com.br/category/charutos/page/2/
http://carusolounge.com.br/blog/um-pouco-da-historia-da-habanos-s/

TOBACCO: ‘¡VIVA EL PATRÓN!’ A VOLTA POR CIMA DOS CHARUTOS BAIANOS


A região de Vuelta Abajo, em Cuba, está para o mundo dos charutos como Bordeaux ou a Borgonha estão para o universo dos vinhos. Mas, em outro paralelo com os franceses, o predomínio cubano também vem sendo desafiado há alguns anos por produtores de diversos países, especialmente dos vizinhos República Dominicana e Nicarágua.   Agora, charutos premium brasileiros tambem estão chegando ao mercado, com alta qualidade e capazes de agradar os apreciadores mais exigentes.   

Apesar de ter séculos de história no Recôncavo Baiano e exportar tabaco para o blend (a mistura de tabacos) de alguns dos melhores charutos do mundo, os produtores brasileiros eram conhecidos nas últimas décadas por seus puros baratos e de má qualidade. Sem capacidade de competir com cubanos e dominicanos, várias fábricas extremamente tradicionais fecharam as portas na Bahia.  

Mas o cenário começou a mudar há alguns anos, com a reabertura de fábricas e o lançamento de novas linhas de charutos, com qualidade premium, bem construídos e embalados de forma caprichada. A maior parte deles feita com tabaco da região conhecida como Mata Fina, a “nossa Vuelta Abajo”, cuja produção é considerada suave, adocicada e altamente aromática.   

O resultado é que o consumidor brasileiro começou a ter acesso a produtos nacionais de excelente relação custo-benefício, especialmente nestes tempos de dólar acima de R$ 5.   Um dos protagonistas desse risorgimento é a Menendez e Amerino, uma das principais fábricas do Recôncavo. A empresa tem história e tradição – ela é resultado de uma associação entre brasileiros e os filhos do famoso Alonso Menendez, criador da marca cubana Montecristo. Exilados após a Revolução, eles se estabeleceram primeiro nas Ilhas Canárias e depois vieram para o Brasil.   

A Menendez e Amerino iniciou todo esse processo com o lançamento das linhas Dona Flor e Alonso Menendez, que já se destacavam no cenário nacional mas ainda não empolgavam. Tudo mudou com a chegada ao mercado em 2018 da linha Alonso Menendez Del Patrón, um charuto encorpado feito com um blend de tabacos Mata Fina e Mata Norte.   Se você só fuma charutos cubanos e está duvidando desta história, segue uma dica:  vença o preconceito e prove um Alonso Menendez Del Patrón Gran Corona ou Robusto. São charutos bem construídos, saborosos e com ótimo fluxo. E o melhor é que o Robusto está na casa dos R$ 30.   


Outro destaque são os charutos da Dannemann, uma marca histórica. Principalmente, na minha opinião, os puros de tabaco Mata Fina e capa escura, extremamente saborosos. Um Robusto Mata Fina sai por cerca de R$ 50 e é um charuto de alta qualidade.   

Para quem quiser investir um pouco mais, a Dannemann oferece ainda a linha premium Elementum, que traz inclusive a identificação da safra com que os charutos foram produzidos. Ela foi lançada no Festival Origem, um evento anual que reúne os produtores de tabaco, café, cachaça etc do Recôncavo. É, seguramente, um dos melhores charutos brasileiros.   

Por fim, outro que me agradou muito é o Gordito, da Leite e Alves, fábrica centenária do Recôncavo Baiano. Seguindo uma tendência mundial de valorizar puros curtos e de bitola mais larga — que proporcionam uma fumada rápida, mas intensa — o Gordito possui fortaleza média e é muito agradável.   

Há diversas outras marcas brasileiras que começam a se destacar por seus produtos de qualidade, que ressaltam as características do tabaco do Recôncavo, reconhecido internacionalmente há décadas. A beleza do processo é visitar a tabacaria de sua preferência (ou navegar online) para pesquisar e encontrar os charutos que mais lhe agradam.   

Mesmo que ainda não se comparem a um Cohiba Behike 54 ou a um Davidoff Winston Churchill, os puros brasileiros avançaram muito e já são, sim, uma alternativa interessante para todos os tipos de consumidor. 



Texto extraído de: https://braziljournal.com/viva-el-patron-a-volta-por-cima-dos-charutos-baianos/
Fonte Imagem:
https://espacoquaidorsay.com/2018/11/05/novidade-alonso-menendez-del-patron/
https://braziljournal.com/viva-el-patron-a-volta-por-cima-dos-charutos-baianos/

TOBACCO: CHARUTOS PARA INICIANTES


Se você está querendo começar a fumar charutos mas não sabe quais charutos escolher numa tabacaria, este pequeno guia de charutos para iniciantes é para você. Se você ainda não sabe nem como acender um charuto, confira este outro guia de como fumar charutos.


Escolhendo os charutos


Nós reunimos diversos especialistas e fumadores para que pudessem indicar quais charutos seriam os ideais para quem está começando nesta nobre e tão saborosa arte que é degustar um bom charuto.

Houve quem sugerisse os famosos charutos Phillies Titan - charutos americanos, bem baratinhos, feitos de papel homogeneizado com sabor de chocolate - mas resolvemos pular esta etapa, ainda que válida, e partir direto para os charutos Premium, para que o iniciante tenha uma experiência mais completa e não desanime antes mesmo de começar.

A regra geral, que todos concordaram, foi que, para começar a fumar, por assim dizer, o iniciante deveria optar por um charuto mais suave, e por isso uma boa indicação seria um bom charuto nacional, pela própria característica do tabaco mata fina, que é mais leve na garganta, ou um charuto dominicano, que também não é forte, ou se quisesse experimentar um cubano, que escolhesse o mais suave possível.


Estes são as indicações de charutos para iniciantes:

Charuto Monte Pascoal Corona 

Um charuto nacional, de bitola fina com um sabor bem suave, que garantirá uma degustação saborosa por cerca de 40 minutos sem amargar e sem irritar a garganta, e o novato irá gastar cerca de 25 Reais.

Charuto Dona Flor Seleção Robusto 

Mais uma indicação nacional, desta vez na bitola Robusto, que é um pouco mais grossa e que já proporciona uma degustação mais plena, cheia de nuances e cheia de sabor. Por ser um charuto nacional, pode-se recomendá-lo para um neófito por ser um charuto bastante suave. Este charuto custa cerca de 32 Reais. Você pode conferir as avaliações deste charuto, feita por outros fumadores como você em nosso site de avaliação de charutos.

Charuto Romeu e Julieta Coronitas en Cedro

Esse cubano é um grande sucesso de vendas, talvez por ser uma ótima indicação para iniciantes. É um charuto Long Filler, ou seja, feito com um maço de folhas inteiras, o que garante uma queima lenta e cheia de sabor, sem ser pesado nem “derrubar” o degustador com o tabaco cubano, que pela própria característica do fumo, é um pouco mais encorpado. Este charuto custa cerca de 35 Reais.

Charuto Hoyo de Monterrey Palmas Extras

A marca Hoyo de Monterrey é a marca cubana com o tabaco mais suave que se pode encontrar. O charuto é fino e comprido e garante uma degustação bastante prazeirosa por cerca de 40 minutos ou mais, sem amargar e sem irritar a garganta. Este charuto custa cerca de 35 Reais.

Charuto Montecristo No 4

Esta é uma verdadeira jóia cubana. Um charuto de primeira linha, absolutamente fantástico, com o máximo de sabor que o tabaco cubano pode oferecer mas ainda numa bitola fina que irá proporcionar uma degustação cheia de prazer e cheia de nuances, sem “assustar” o degustador. Este charuto custa cerca de 75 Reais, e é o charuto cubano mais vendido no mundo.

Charuto Hoyo de Monterrey Epicure No 2

Novamente a marca Hoyo de Monterrey, a mais suave das marcas cubanas, mas agora numa bitola grossa. Um charuto para chamar os amigos para aquela roda de poker e fazer bastante fumaça. Nota 10 em sabor e nota 10 em abundância de fumaça. Mais que recomendado para um recém iniciado. Este charuto custa cerca de 96 Reais numa boa tabacaria.

Charuto Romeu e Julieta Short Churchill

Um charuto excepcional, cheio de perfume e sabor, para uma degustação rica e cheia de nuances, com um tabaco de força média, que satisfaz do início ao fim, sem sobrecarregar demais o degustador. Este charuto dá água na boca só de sentir o perfume ao abrir a caixa, e se o neófito terminar o charuto sem se sentir “mareado”, já pode se considerar um “iniciado” e arriscar tabacos mais encorpados como o famoso Partagas D4 ou até, quem sabe um Bolivar. Este charuto custa cerca de 96 Reais.

Veja na figura abaixo os charutos com sua respectivas escalas de força:
 

Texto extraído de: https://www.charutos.com/blog/charutos_para_iniciantes.php
Fonte Imagem: https://www.charutos.com/blog/charutos_para_iniciantes.php

TOBACCO: CHARUTOS BAIANOS, UM TABACO COM HISTÓRIA (2020)

“Aroma, sabor e capacidade de combustão são os elementos que constituem um bom charuto”, diz Luiz César Araújo, guia da fábrica Dannemann, enquanto fuma um puro baiano.

Um imperador, escravos, presidentes, imigrantes alemães, refugiados cubanos e até mesmo um papa: todos foram seduzidos pelos charutos baianos.


Digo ao meu tio Genival Dias que estou a trabalhar numa reportagem sobre a produção de tabaco no Recôncavo Baiano [a região em redor da baía de Todos os Santos] e ele sorri. Recosta-se na sua cadeira de balanço e olha para o enorme campo verde à sua frente: onde antes havia pés de fumo a perder de vista, agora vêem-se laranjeiras, limoeiros e tangerineiras. Aos 64 anos, Dias começa a desfiar as suas memórias. “No período da colheita, nas tardes ensolaradas, todas aquelas mulheres sentavam-se no chão dos terreiros pra amarrar as folhas de tabaco”, diz. “Para onde ia tanto fumo?”

É ele próprio quem dá a resposta. O fumo, designado no Brasil por mata-fina-bahia-brasil (Nicotiana tabacum), é um tabaco escuro destinado ao fabrico de charutos e era exportado para boa parte do planeta. A sua história começou no período da escravatura, foi afectada por duas guerras e contribuiu para a afirmação e independência da mulher no estado da Bahia. Gerou fortunas e disputas familiares – uma traição, aliás, quase levou um brasileiro a cair nas mãos dos nazis. A sua história é tão importante que aparece no brasão da República – o fumo está lá, florido, do lado esquerdo, formando uma coroa, juntamente com um ramo de café frutificado, sobre um esplendor de ouro.

Na condição de colónia de Portugal, o Brasil não podia instalar fábricas. Por isso, toda a lavoura fumageira baiana era destinada à exportação, servindo até mesmo como moeda de troca para a compra de escravos em África. O cenário só começou a mudar após a independência: em 1842, o português Francisco José Cardoso abriu a primeira fábrica no Brasil, a Charutos Juventude, em São Félix, no Recôncavo Baiano. Pouco depois, foram ali implementadas dezenas de novas fábricas, em lugares como Cachoeira, Cruz das Almas, Governador Mangabeira, Maragojipe, Muritiba e São Gonçalo dos Campos. Indústrias que nasceram, morreram e ressurgiram das cinzas ao longo dos últimos dois séculos foram protagonistas de um evento inédito no Brasil daquele tempo: o desenvolvimento industrial no interior do país.

Na cidade de São Félix, o Centro Cultural Dannemann, instalado num prédio do século XIX, é uma espécie de showroom do charuto baiano moderno. Mulheres vestidas com saias coloridas fabricam o tabaco diante dos turistas, muitos dos quais estrangeiros. “Aroma, sabor e capacidade de combustão são  os elementos que constituem um bom charuto”, anuncia Luiz César Araújo, guia  da fábrica local, enquanto deixa o fumo sair suavemente da boca e das narinas. Tento repetir o gesto calmo ao fumar, mas a cinza cai do charuto e espalha-se no meu colo. “Não se preocupe. A cinza é um bom indicador. Ela é branca, não manchará a sua roupa”, tranquiliza o guia.

Em Cuba, pátria mundial dos grandes charutos, a maioria dos trabalhadores é masculina. No Brasil, porém, impera a mão-de-obra feminina. “Empregamos uma proporção de dez mulheres para um homem”, conta Marcos Augusto Souza, director do Sindicato da Indústria do Tabaco no estado da Bahia.


Mãos exímias enrolam a folha que forma a capa do charuto artesanal. A indústria dos charutos baianos difere da de Cuba nesse factor peculiar: 99% da força de trabalho é constituída por mulheres.


Antes da explosão da indústria do charuto, a plantação de fumo era conhecida como a “lavoura do pobre”, cultivada por pequenos agricultores sem acesso a crédito. Como a lavoura era pouco lucrativa e exigia menos esforço físico, a solução foi usar escravos mais baratos, como mulheres, idosos e crianças. Mesmo após a abolição da escravatura, a situação prosseguiu de tal forma que, agora, poucos homens estão dispostos a trabalhar num sector essencialmente feminino. “Como tinham salário, as charuteiras romperam padrões. Participavam nas festas populares e nas tomadas de decisão em casa. É [um exemplo] da independência da mulher pela condição em que está inserida”, comenta a historiadora Rosana Falcão Lessa.

Certa manhã, acompanho um grupo de mulheres que descem da camioneta rumo a um grande campo de cultivo numa zona rural.

Estão todas uniformizadas, com lenços na cabeça e botas de plástico para se protegerem dos animais peçonhentos. Sorriem e cantam enquanto, em fila, regam o terreno durante a manhã.

À tarde, começa a plantação. Dividem-se em grupos de três: a primeira lança as mudas ao solo, a segunda planta e a terceira molha o terreno mais uma vez. Quase não há homens – os poucos que estão ali ocupam-se apenas de tarefas como a demarcação da área de plantação, a segurança, o carregamento de caixas e a condução de camiões e tractores. “Aqui, consegui o meu primeiro emprego. Tenho uma filha, e o pai dela deixou-me. Hoje estou casada, mas sou independente”, diz Núbia Ramos dos Santos.

“Se não fossem os charutos, dificilmente conseguiria emprego noutro lugar.”


Dezenas de mulheres preparam o solo para iniciar a plantação das mudas de fumo. Da plantação das sementes, passando pela colheita, secagem e fermentação até ao produto final, são necessários dois anos. 


A primeira gigante dos charutos brasileiros surgiu em 1851: a Fábrica Utilidade, depois renomeada Costa Penna. A repercussão atraiu diversos imigrantes e empresários, sobretudo alemães, grandes apreciadores. Entre eles estavam os irmãos Gerhard e Reinhard Dannemann, que chegaram à Bahia para fundar a empresa com o apelido da família. Com apenas dez anos de existência, já eram tão prósperos e famosos que o imperador Dom Pedro II atribuiu-lhes o direito de usarem o nome “Imperial Fábrica de Charutos”. A consolidação da Dannemann marcou o início do domínio alemão no fabrico de charutos na Bahia. Pouco depois, instalou-se a Suerdieck, em Maragojipe, que mais tarde monopolizaria o mercado, tornando-se uma das maiores do mundo.


Uma mulher colhe as folhas da espécie santo-antónio, oriunda da Indonésia.


Com as três gigantes exportando milhares de toneladas de tabaco e milhões de charutos, o fumo tornou-se um orgulho nacional. O sucesso era tão grande que, em 1906, ao saber que o papa Pio X era um apreciador, a fábrica baiana Stender & Cia. lançou uma marca com o nome do pontífice. Outra personalidade que não resistiu foi o então presidente Getúlio Vargas, que, na sua passagem pela Bahia em 1933, fez questão de visitar as fábricas da Dannemann e da Costa Penna. Com o tempo, a Suerdieck produziu a marca Getúlios, em homenagem ao presidente.

“O nosso tabaco é o ‘sal e a pimenta’, o tempero para os outros”, conta Marcos Augusto Souza. Excepto no caso cubano, quase todos os charutos do mundo, até hoje, usam, na sua composição, uma camada das folhas do tabaco baiano.

Em pleno apogeu, porém, a economia do tabaco sentiu o impacte causado pela Segunda Guerra Mundial. Das três unidades gigantes, a Suerdieck foi a que teve a melhor sorte, mas por pouco tempo. Geraldo Suerdieck, nascido no Brasil e principal herdeiro da família, encontrava-se em Hamburgo, fazendo um estágio num banco e preparando-se para, no futuro, assumir o controlo da empresa. A Gestapo, a polícia secreta alemã, recebeu uma denúncia de que ele e o pai, Gerhard Meyer Suerdieck, estavam a trair a Alemanha. Ao perceber o clima de fanatismo e adulação na Alemanha de Hitler, o pai entendeu que a guerra estava iminente. Gerhard viajou para Itália, até Nápoles, e de lá viajou de barco para a Bahia. Geraldo, ainda em terras alemãs, foi preso e interrogado, mas, graças à intervenção do banqueiro Julius Peters, amigo da família, foi libertado. Soube-se depois, através da própria Gestapo, que a denúncia partira do Brasil – de Karl Horn, sócio da empresa e simpatizante do nazismo. Horn esperava que, com a denúncia, a família Suerdieck fosse presa – assim, assumiria o controlo da empresa. Com o fracasso do plano, Horn foi afastado. A Suer-dieck livrou-se do único sócio alemão, garantindo que a empresa se tornasse totalmente brasileira e não sofresse intervenção do governo.


Sob o olhar de Arturo Toraño, na fábrica Menendez & Amerino, mulheres separam as folhas de fumo por tamanho. A indústria do charuto emprega cerca de 2.500 famílias nas fábricas que resistem ao tempo e ao cerco social ao tabagismo.


Foi esse também o esforço da Dannemann, num mundo então dividido entre países Aliados e do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Numa tentativa de separar a sua imagem dos alemães, a empresa passou a publicar anúncios nos jornais enfatizando o seu carácter 100% brasileiro. Em Agosto de 1942, contudo, cinco navios mercantes brasileiros foram torpedeados por um submarino alemão, o U-507, em plena costa do Nordeste. Morreram 607 pessoas. O povo saiu à rua e exigiu a entrada do Brasil na guerra. Imigrantes passaram a ser insultados e instituições alemãs foram saqueadas e destruídas. O Brasil rompeu as relações diplomáticas e comerciais com os países do Eixo.

Nas fábricas Dannemann, vários brasileiros recusaram-se a trabalhar sob comando de alemães. O governo interveio. A empresa só foi devolvida à iniciativa privada após o fim da guerra, em 1945. Mas a má administração durante a intervenção levou a Dannemann a uma crise que culminou no fim da sua atividade, em Abril de 1955.

As trágicas circunstâncias pareceram favorecer os brasileiros da Costa Penna, que exportava milhões de charutos para as tropas dos Aliados. No entanto, o drama continuou – lançando uma espécie de maldição sobre os charutos brasileiros. Primos e sócios maioritários, Luiz da Costa Penna e Manoel da Costa Ferreira Júnior desentenderam--se. Manoel tentou o suicídio lançando-se de uma janela do primeiro andar da fábrica. Sobreviveu, mas com ferimentos graves. Luiz Penna, entre tantos problemas, sofreu um derrame cerebral. “Os dois homens recuperaram, mas Luiz ficou com as ações da fábrica e apostou na mecanização do fabrico de charutos populares. Infelizmente, os cigarros já se tinham instalado no mercado. A crise foi rápida e fatal”, conta Ubaldo Marques Porto Filho, ex-funcionário da Suerdieck. Assim, caía a segunda gigante da indústria dos charutos.

 

Após a colheita, as folhas seguem para armazéns para secagem e fermentação em estufas.


Anos depois, em Cuba, Fidel Castro, acompanhado do seu irmão Raúl, de Camilo Cienfuegos e de Ernesto “Che” Guevara, descia a Sierra Maestra para promover a Revolução Cubana – e, a reboque, a estatização das empresas privadas. Entre elas, estava a fábrica de charutos Garcia y Cia., proprietária da famosa marca Montecristo. A fábrica pertencia a Alonso Menendez, que teve de deixar o país à pressa, juntamente com toda a família. Destino: as ilhas Canárias.

Ataques de navios nazis no oceano Atlântico mudaram a indústria do charuto baiano. Fabricantes alemães tiveram de abandonar o negócio.

“Na fábrica do meu pai, trabalhavam 900 pessoas. Desde cedo, aprendi a lidar com charutos”, conta Félix Menendez, herdeiro da família. “Estudei no Colégio Jesuíta de Belém, o mesmo onde Fidel estudara”, continua ele, antes de fazer uma longa pausa. Pergunto se a recente reaproximação entre os Estados Unidos e Cuba seria uma porta que se abriria para ele visitar o seu país. “Já não conheço lá ninguém”, responde secamente.

Para produzir nas Canárias, os Menendez adquiriam folhas do Recôncavo Baiano, comprando-as ao produtor Mário Amerino da Silva Portugal. Os negócios e a amizade entre eles estreitaram-se e Mário convidou Benjamin e Félix, filhos de Alonso Menendez, já falecido, a viver na Bahia. Nascia assim, em São Gonçalo dos Campos, a Menendez & Amerino. Os cubanos rapidamente travaram amizade com personalidades locais, como o escritor Jorge Amado – em sua homenagem, criaram a marca Dona Flor.

A chegada dos cubanos coincidiu com uma mudança radical no mercado mundial do tabaco. Após a Segunda Guerra, os cigarros, mais práticos e baratos, invadiram o mercado. A Suerdieck e outras empresas menores viram-se em apuros. Como a produção local estava mais vocacionada para a quantidade do que para a qualidade, os baianos ainda perderam terreno para fabricantes das Caraíbas e da Europa. Muitas empresas faliram. “Em 1977, quando chegámos, a Suerdieck era a maior fabricante do mundo de charutos feitos a mão. Mas não eram charutos premium”, diz Félix Menendez. Tentando superar os problemas, a Suerdieck apostou tudo numa nova safra, com plantas da ilha de Samatra. Mas uma praga comprometeu a plantação. Em 1999, a Suerdieck, a terceira gigante dos charutos, vergou-se.
A população do Recôncavo nem queria acreditar.


Em Maragojipe, em dois prédios ligados por uma ponte pedonal, funcionava a Suerdieck – que chegou a ter quatro mil empregados. Uma pequena fábrica de charutos e uma escola de música funcionam hoje no prédio à esquerda.


Restaram a Dannemann, que voltava ao mercado pelas mãos do grupo suíço Burger Söhne, e a Menendez & Amerino, além de algumas marcas menores. A Dannemann procurou concentrar-se na exportação do fumo cru para a Indonésia, onde os custos com a mão-de-obra eram menores, e manteve uma produção de pequena escala de charutos de alta qualidade em São Félix. Hoje, as empresas sofrem com as tendências antitabagistas. Instituições como a Organização Mundial da Saúde e o Ministério Brasileiro da Saúde não fazem diferenciação entre o cigarro e o charuto (puro, sem substâncias químicas).

Para piorar, em 2000, o governo brasileiro, num esforço de apoio à economia cubana, isentou os charutos procedentes da ilha do pagamento de impostos, enquanto sobrecarregou de impostos e tarifas os nacionais. Em qualquer tabacaria do Brasil, é mais barato adquirir charutos cubanos do que os brasileiros. O custo da mão-de-obra é outro um ponto fundamental. “Poderíamos concorrer, mas o problema são os encargos e a isenção de impostos para charutos das Caraíbas na União Europeia e nos Estados Unidos, com exceção de Cuba. Já os nossos charutos pagam 26%”, conta Joaquín Menendez, sobrinho de Félix. “Não há maneira de competir.”

O Banco Central impede igualmente que a indústria do tabaco peça crédito bancário destinado à produção de fumo, e mesmo as acções culturais estão proibidas. “Nem no Carnaval investimos mais”, lamenta Félix.

O cubano de alma brasileira prossegue a sua vida, fazendo o que gosta, mas sem entender por que não pode promover um produto que, afinal, é parte insolúvel da história da Bahia e do Brasil.
“De camanduá [feixe de folhas de tabaco, com cerca de dez quilogramas] em camanduá, as vendas ficavam lotadas, assim como os armazéns, que desaguavam nos exportadores e nas fábricas. Era um contributo económico importante”, recorda o meu tio.

Na época áurea, o mundo todo parecia caber no Recôncavo Baiano. “Assim como eu não entendia para onde ia tanto fumo, também não entendo por que tudo mudou tão de repente”, lamenta ele. E deixa a cadeira balançar.


Texto extraído de: https://nationalgeographic.pt/historia/grandes-reportagens/1718-a-seducao-dos-charutos-baianos
Fonte Imagem: https://nationalgeographic.pt/historia/grandes-reportagens/1718-a-seducao-dos-charutos-baianos
 
 

CULT COFFEE

  Fonte Imagem: https://unsplash.com/pt-br/fotografias/cafeteira-branca-e-prateada-N0qKzNAC7Go