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quarta-feira, 15 de junho de 2022

HISTÓRIA DA ERVA-MATE


Antes da chegada dos europeus à América, os índios guaranis já usavam as folhas da erva-mate (chamada de ka'a karai, "folha sagrada", ou côgoi, palavra esta que foi posteriormente adaptada ao idioma português como "congonha") para preparar uma bebida estimulante. Era o chamado ka'a y (traduzido do guarani, "água de folha"). As folhas da erva eram colocadas em uma cuia com água e o líquido era então chupado através de uma taquara, caniço ou osso (o chamado tacuapi), filtrado através de um trançado de fibras vegetais. Segundo o mito guarani, a bebida foi descoberta quando um velho índio não conseguiu mais acompanhar as andanças da tribo devido à sua idade avançada e teve que ficar para trás. Sua filha decidiu ficar com ele, mas ele queria que ela seguisse com a tribo, então o deus Tupã (ou então São Tomé) lhe ensinou a preparar uma bebida com as folhas da erva-mate, bebida esta que lhe daria forças e que permitiria a ele e a sua filha acompanharem a tribo. Os índios guaranis costumavam armazenar as folhas de erva-mate em cestas de taquara.

A bebida era consumida também pelos índios carijós, xetás, guairás, charruas, caingangues (que chamam o chimarrão de kógwuin) e os incas, pois todos eles mantinham relações comerciais com os guaranis. O termo "mate" tem origem no idioma dos incas, o quíchua, através do vocábulo mati, significando "cuia, recipiente" e designando a cabaça na qual até hoje se bebe a infusão de erva-mate. 

O termo "porongo", que nomeia a planta que fornece a cuia usada para beber o mate, também vem do quíchua, significando "vaso de barro com o gargalo estreito e comprido".

Os colonos espanhóis no Paraguai observaram que os índios guaranis eram viciados na bebida e inicialmente os jesuítas espanhóis proibiram seu consumo devido a seus supostos efeitos afrodisíacos, qualificando a planta como "erva do diabo". Mas os espanhóis não tardaram a experimentar a bebida e aprová-la, passando a utilizá-la como ingrediente básico da sua dieta alimentar. Diz-se que o primeiro contato dos europeus com a bebida foi quando as tropas do general espanhol Irala se encontraram com os índios guaranis da região de Guaíra (atual estado brasileiro do Paraná), em 1554 e observaram o consumo generalizado da bebida entre os índios.

Os jesuítas espanhóis, que organizaram grandes aldeamentos de índios catequizados (as chamadas missões ou reduções), organizaram o cultivo e a produção da erva-mate e passaram a abastecer os colonos espanhóis em toda a bacia platina (Argentina, Paraguai, Uruguai e Rio Grande do Sul), conseguindo grandes lucros com o comércio da erva. Os jesuítas destacaram-se na produção da erva, pois seus métodos secretos de produção permitiam-lhes obter uma erva-mate de qualidade muito superior à de outros produtores. Os jesuítas estimularam o consumo de mate pelos índios das missões como forma de combater o perigo do alcoolismo.

Foram os europeus que introduziram o metal nos apetrechos do mate: a bomba passou a ser feita de prata (abundante na região na época, oriunda das minas de Potosí, na atual Bolívia), com detalhes em ouro. A bomba passou a contar com um pequeno adorno colorido perto do bocal chamado "pitanga" (uma referência à pequena fruta vermelha homônima de aspecto semelhante), que tem a função prática de indicar o lado da bomba que deve ficar voltado para cima. A cuia passou a ter o bocal revestido de prata. E foi criada uma armação de metal para sustentar a cuia, quando ela não estivesse sendo usada. Para os menos abastados, em vez da prata era utilizado outro metal branco menos valioso, como a alpaca ou o alumínio. A água usada no preparo do mate pelo índios guaranis era, inicialmente, fria. 
Foram os europeus que passaram a utilizar água quente no preparo da bebida, muito provavelmente para evitar doenças oriundas de água contaminada não fervida. Os europeus também passaram a armazenar a erva-mate em bolsas impermeáveis de couro, os chamados "surrões".

A palavra castelhana cimarrón, que significa "selvagem" e que era utilizada para se referir ao gado bovino que havia sido introduzido pelos espanhóis na América do Sul e que havia se dispersado, tornando-se selvagem, foi usada pelos luso-brasileiros do Rio Grande do Sul para designar a bebida, que passou a ser conhecida como chimarrão.

Os índios da atual região sudeste dos Estados Unidos utilizavam uma planta aparentada à erva-mate para produzir um chá que tinha supostos efeitos purificadores. A planta era a Ilex vomitoria e o chá era chamado de "bebida negra", "bebida branca", "cassina" ou yaupon. O chá era consumido em uma grande concha ornamentada. Muitas vezes, seu uso era seguido de vômito, também com efeito supostamente purificador. Com a expulsão dos índios da região para o interior dos Estados Unidos, onde não existia a Ilex vomitoria, o uso do chá desapareceu, permanecendo somente na região costeira do atual estado da Carolina do Norte.

No século XVIII, com a expulsão dos jesuítas da América, ocorreu uma desorganização no setor produtivo da erva-mate. Isto estimulou o crescimento da extração de erva-mate na região dos atuais estados brasileiros do Paraná e de Santa Catarina. O primeiro engenho brasileiro de erva-mate a obter autorização de funcionamento foi o de Domingos Alzagaray, argentino residente na cidade de Paranaguá, no ano de 1808. A indústria da erva-mate passou a movimentar toda a economia do litoral e do planalto paranaense (na época, ainda pertencentes à Capitania de São Paulo). Os engenhos eram, inicialmente, movido a energia hidráulica, a qual movimentava rodas que, por sua vez, movimentavam os pilões que batiam e reduziam a pó os ramos de erva-mate. Posteriormente, a energia hidráulica dos engenhos foi substituída por energia a vapor. O pó de erva-mate produzido pelos engenhos era acondicionado em sacos feitos de bexiga de boi costurada chamados surrões. Datam, dessa época, os "homens verdes", como eram chamados os operários dos engenhos de erva-mate, que ficavam cobertos pelo pó verde resultante do processamento da erva-mate.

Enquanto isso, na Europa, a erva-mate já era conhecida, só que pelo nome de "chá dos jesuítas" e era cultivada em jardins botânicos. No século XVIII, a planta foi classificada no atlas do botânico sueco Lineu com o nome de Ilex paraguariensis ou Ilex brasiliensis

Em 1822, durante uma viagem de seis anos pelo interior do Brasil, o botânico francês Auguste Saint-Hilaire descreveu cientificamente a planta.

Em 1834, o imigrante espanhol José Caetano Munhoz fundou, na cidade de Curitiba, no Brasil, um engenho de erva-mate que seria o início da companhia Real de chá.

Em 1835, teve início a Revolução Farroupilha, que pretendia separar o Rio Grande do Sul do resto do Brasil. Confeccionou-se um brasão para a república separatista, fazendo parte do brasão um ramo de erva-mate.

Durante o século XIX, o Paraguai se isolou dos outros países, proibindo a exportação de erva-mate para fora do país. Isto fez a Argentina e o Uruguai substituírem a erva-mate paraguaia pela brasileira, desenvolvendo ainda mais seu cultivo no Paraná e em Santa Catarina. Era o chamado Ciclo da Erva-mate no Paraná e em Santa Catarina, que gerou a chamada "nobreza da erva-mate": os donos dos engenhos de erva-mate. Data, dessa época, a maioria das construções históricas na região. Como consequência desse processo de desenvolvimento, o Paraná se separou da província de São Paulo para constituir a província do Paraná em 1853. Quanto ao Paraguai, o seu processo de isolamento internacional culminou na eclosão da Guerra do Paraguai em 1864. Após a derrota paraguaia, o nordeste paraguaio foi anexado definitivamente pelo Brasil e o sudeste paraguaio, pela Argentina. Ambas as regiões anexadas eram grandes produtoras de erva-mate, que passaram a abastecer os seus respectivos mercados nacionais.

Após a guerra, o imperador brasileiro dom Pedro II concedeu ao comerciante Thomas Larangeira o direito de exploração de erva-mate no território paraguaio anexado, como recompensa por sua atuação na guerra. A primeira sede da Empresa Matte Larangeira, depois Companhia Matte Larangeira, foi, no entanto, a cidade paraguaia de Concepción, a partir de 1877. Posteriormente, a companhia se mudou para as cidades brasileiras de Porto Murtinho (no atual estado de Mato Grosso do Sul) e Guaíra (no estado do Paraná).

A partir do final do século XIX, o transporte da erva-mate, que era feito através de mulas, passou a ser feito por carroças, que foram introduzidas pelos imigrantes alemães, poloneses e ucranianos. Logo em seguida, passaram a ser utilizados o transporte fluvial através do Rio Iguaçu e o transporte ferroviário, através da recém-construída estrada de ferro Curitiba-Paranaguá, que facilitou o escoamento da erva-mate produzida no planalto paranaense para os portos no litoral. Nessa época, os surrões (sacos de bexiga de boi costurada) que acondicionavam a erva-mate passaram a ser substituídos por barris de madeira, gerando um novo ciclo econômico na região: o Ciclo da Madeira.

Em 1901, foi inaugurada, em Curitiba, no Brasil, a Leão Júnior, que iria produzir o famoso matte Leão.

No início do século XX, Don Juan Eladio Stepaniuk, filho de imigrantes ucranianos, iniciou a plantação de erva-mate na cidade argentina de Oberá, na província de Misiones. Tal empreendimento iria resultar na importante empresa de erva-mate Molinos La Misión S.A. 

Em 1918, foi oficializado o brasão do estado brasileiro de Mato Grosso, do qual faz parte um ramo de erva-mate.

Em 1920, foi lançado o primeiro chá mate do Brasil, pela empresa Real, na cidade de Curitiba. O novo tipo de consumo da erva-mate, tostada, buscava imitar o aspecto escuro do famoso chá preto inglês produzido na Índia e no Ceilão. O consumo do chá feito com erva-mate tostada se espalhou então pelo Brasil.

Em 1932, eclodiu a Guerra do Chaco entre Paraguai e Bolívia. Segundo a lenda, os soldados paraguaios passaram a tomar o mate frio, para não acender fogueiras que denunciariam sua posição ao inimigo. Deste costume, teria surgido o hábito paraguaio do tereré. O tereré teria penetrado no Brasil pela cidade de Ponta Porã e, daí, se expandido para o resto do atual estado brasileiro do Mato Grosso do Sul, já com o nome aportuguesado para "tereré" (com o "e" final aberto).

Em 1935, foi criado o brasão da cidade de Guarapuava, no estado brasileiro do Paraná. No brasão, consta um ramo de erva-mate, um dos pilares da agricultura da cidade.

Em 1943, o presidente brasileiro Getúlio Vargas anulou a concessão da Companhia Matte Larangeira, determinando sua extinção.

Nessa época, acontecia a Segunda Guerra Mundial, que dificultou a exportação do chá indiano para o resto do mundo. Como consequência, foi incentivada a produção de chá mate tostado em sachês, que passou a substituir o chá inglês importado da Índia. O chá mate passou a ser servido gelado. No caso da cidade brasileira do Rio de Janeiro, o chá mate gelado passou a ser vendido nas praias por vendedores ambulantes uniformizados, tornando-se uma bebida típica da cidade.

Em 1945, foi fundada, em Santa Rosa, no estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, a indústria de erva-mate Vier.

Em 1947, foram oficializados os atuais brasão e bandeira do estado brasileiro do Paraná, contendo ambos um ramo de erva-mate.

Em 1953, foi criada a província argentina de Misiones no território paraguaio anexado pela Argentina ao final da Guerra do Paraguai. Em 1959, foi criado o brasão da província, contendo dois ramos de erva-mate.

Em 1958, foi fundada, em Ponta Porã, no atual estado de Mato Grosso do Sul, no Brasil, a empresa Erva Mate Santo Antônio.

Até a década de 1960, a maior parte da erva-mate era obtida através de colheita da erva em ervais de matas nativas. A partir dessa época, o avanço da agropecuária sobre as matas nativas fez com que se difundisse a plantação de erva-mate em sistema de monocultura.

Em 26 de dezembro de 1963, foi criado o município de Ilópolis, no Rio Grande do Sul, no Brasil. O nome era uma referência ao nome científico da erva-mate, Ilex paraguariensis. Como "pólis" vem do grego, significando "cidade", Ilópolis significa "cidade da erva-mate".

Em 1966, foi oficializado o brasão do estado brasileiro do Rio Grande do Sul, que adotou quase sem alterações o antigo brasão da Revolução Farroupilha.

Em 1976, foi inaugurada na cidade brasileira de Cascavel a Mate Laranjeiras Ltda.

Em 1977, a porção sul do estado brasileiro de Mato Grosso (correspondendo em grande parte ao território paraguaio que havia sido anexado pelo Brasil ao final da Guerra do Paraguai) se tornou um estado brasileiro autônomo, o Estado de Mato Grosso do Sul. Dois anos depois, foi oficializado o brasão do novo estado, contendo um ramo de erva-mate.

No final da década de 1970, foi fundado o Rei do Mate, uma loja especializada na venda de chá mate gelado, na Avenida São João, próximo à Avenida Ipiranga, no centro da cidade brasileira de São Paulo. Tal loja daria origem à conhecida rede de franquia especializada em chá mate.

Em 1986, foi fundada a Ximango Indústria de Erva-mate, em Ilópolis, no Rio Grande do Sul, no Brasil.

Em 1988, foi criado o município de Erebango, no Rio Grande do Sul, no Brasil. Um dos elementos do brasão do novo município era uma cuia de chimarrão com um ramo de erva-mate e uma roda denteada, simbolizando a importância da planta e da bebida para a cultura e para a economia da nova cidade.

Em 15 de abril de 1992, foi fundada a Agromate Fucksa, em Canoinhas, em Santa Catarina, no Brasil.

Em 21 de janeiro de 1994, foi fundada, em Rio das Antas, em Santa Catarina, no Brasil, a Indústria e Comércio de Erva-Mate Mazutti Limitada. No mesmo ano, foi inaugurada a primeira loja da rede especializada em chá mate MegaMatte, no Largo do Machado, no bairro do Catete, na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. A rede, nos anos seguintes, se expandiria por vários outros estados brasileiros.

Em 1995, a banda brasileira de rock Engenheiros do Hawaii lançou uma música em homenagem à erva-mate intitulada "Ilex Paraguariensis".

Em 1999, foi oficializado o brasão da cidade de Guarapuava, com um ramo de erva-mate, representando a importância da planta para esta cidade do interior paranaense.

Em 2001, a grave crise financeira argentina fez aumentar o consumo de mate naquele país, pois o mate era mais barato que o café. Além disso, o hábito do mate, que era estritamente caseiro, passou a invadir os restaurantes, bares e até mesmo aviões argentinos. Atualmente, o Brasil é o maior produtor mundial de erva-mate, seguido por Argentina e depois Paraguai. O Uruguai é o país com o maior consumo mundial de mate per capita. A maior parte do mate exportado pela Argentina vai para a Síria (para abastecer os imigrantes sírios na Argentina que retornaram para a Síria) e a maior parte do mate exportado pelo Brasil vai para o Uruguai.



Texto extraído de: https://pt.wikibooks.org/wiki/Mate/Hist%C3%B3ria
Fonte Imagem: https://www.gazetadopovo.com.br/bomgourmet/produtos-ingredientes/segunda-onda-da-erva-mate-toma-corpo-no-sul-do-brasil/

terça-feira, 14 de junho de 2022

200 ANOS DEPOIS DA CLASSIFICAÇÃO PELA BOTÂNICA, ERVA-MATE AINDA FAZ HISTÓRIA


Ilex domestica, Ilex mate, Ilex sorbilis, Ilex vestita, Ilex mattogrossensis, Ilex theaezans. Esses são alguns dos principais registros sob os quais a erva-mate foi batizada nas mais diversas tentativas de estudar a planta, que hoje é tão presente na cultura e na gastronomia do sul do Brasil.
 
Foi com a vinda do botânico francês Auguste de Saint-Hilaire ao país que, em 1820, o arbusto verde de folhas com formato de gota ganhou o nome sob o qual ficou mais conhecido: Ilex paraguariensis. Mas essas não são as únicas nomenclaturas da erva-mate. Ela também é chamada de Ilex curitibensis, e não é à toa. Seu cultivo foi tão importante para a história da cidade, de maneira geral - que há quem defenda que suas folhas deveriam estampar o brasão do município, ao lado do trigo, da parreira e do pinheiro.
 
Na verdade, o chamado “ouro verde”, que ajudou a enriquecer tantas famílias a partir da segunda metade do século 19, é ostentado por outra bandeira: a do Estado do Paraná, onde, aí sim, divide espaço com o pinheiro. O motivo é inquestionável: não fosse pela erva-mate, o Paraná talvez nunca tivesse se separado de São Paulo e ganhado o status de província.

 Obra de João Leão Pallière, tropa carregada de mate descendo a serra, cerca de 1860. Foto: Pintores da Paisagem Paranaense/Reprodução

A planta, que chegou a responder por 85% da economia paranaense, garantiu uma autonomia financeira que resultou na sua emancipação política, em 1853. O auge do ciclo da erva-mate foi, também, “a receita para que o Paraná desse os primeiros passos rumo à industrialização no século 19, com o beneficiamento e empacotamento da erva visando o mercado interno e externo”, explica o jornalista e pesquisador Diego Antonelli, autor de quatro livros sobre a história do Paraná.
 

Breve história do cultivo do mate


O hábito de consumir a erva-mate já fazia parte da cultura indígena antes mesmo da chegada dos portugueses e espanhóis à América do Sul, mas foi adotado pelos colonizadores quando estes perceberam os potenciais econômicos da planta. “No século 18, já havia registros da extração da erva para fins econômicos. Foi nessa época que o governo português passou a se interessar por essa atividade. No século seguinte, o chamado ciclo da erva-mate ganhou forças no estado por meio do beneficiamento do mate realizado em engenhos – sobretudo no litoral e em Curitiba”.
  
O primeiro desses engenhos, de acordo com o pesquisador, foi montado pelo espanhol Francisco Alzagarray, que chegou a Paranaguá em 1820. “A partir daí outras pessoas foram aderindo a essa prática. Para se ter uma ideia, em 1853 havia em Morretes 47 engenhos de erva-mate e em Curitiba, 29”, conta.

 Carroça carregada de erva-mate descendo a Serra do Mar. Foto: Divulgação/ Fundação Cultural de Curitiba

A conexão entre as regiões de Ponta Grossa, Curitiba e Morretes consolidou o que é chamado pelos historiadores de Rota do Mate. Foi em torno deste trajeto que as famílias que se sustentavam com a produção da Ilex foram construindo suas casas, galpões, engenhos e comércios.
 
Esse processo contribuiu para que as cidades fossem tomando forma. Em Curitiba, foi dessa maneira que se estabeleceram bairros como Batel, Alto da Glória e Centro Cívico, onde foram construídas as residências de alguns dos grandes produtores desta cultura.

  Agostinho Ermelino de Leão Jr. durante o embarque de barricas vazias, que seriam devolvidas para o transporte de erva-mate. Foto: Arquivo Casa da Memória.


Os barões da erva-mate


Com a crise de 1929, o chamado "ciclo do mate" terminou no Paraná, mas isso não significa que esta cultura deixou de ser importante para o Estado.
 
Pelo contrário: embora tenha perdido o monopólio de principal fonte de renda dos paranaenses, ela continuou sendo produzida com força. Em 2018, o Paraná respondia por 87% da produção nacional, segundo um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
 
 
Folhagem da erva-mate| Jonathan Campos

Além de uma geografia que favorece o crescimento da Ilex, parte do motivo que colocou o Paraná no roteiro da produção e exportação foi a atividade das grandes famílias de ervateiros, que enxergaram o potencial daquele produto - alguns dos quais são lembrados até hoje, como é o caso da família Leão, que empresta o nome à Matte Leão.

Segundo o pesquisador Khae Lhucas Ferreira Pereira, da Fundação Cultural de Curitiba, os Leão contribuíram para a reinvenção do consumo da planta. “Eles não só mantiveram por mais de um século sua produção, como também reelaboraram a cultura do mate reinventando a forma de consumo do chimarrão, como quando apresentaram a erva já tostada, em caixa de flandres, para servir em xícaras, e o chá gelado em copo, que é conhecido nacionalmente”.

A história da família Leão se mistura à própria história da erva-mate no Paraná. Ao adquirir o primeiro grande engenho ervateiro em Curitiba, Francisco Fasce Fontana, casou-se, em 1882, com Maria Dolores de Leão, irmã de Agostinho Ermelino de Leão Jr., o empresário à frente da Matte Leão, responsável por construir o Palacete Leão Jr. - atual Espaço Cultural BRDE. Com Ildefonso Pereira Correia, o Barão do Serro Azul, Leão Jr. e Francisco Fontana formam a tríade dos grandes barões da erva-mate no final do século 19.


Mais do que produtores e exportadores, os ervateiros foram responsáveis, naquele momento, por fomentar o desenvolvimento econômico, industrial, urbano, arquitetônico e cultural da cidade.

Nessa época, foram construídos o Passeio Público, a Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais e a própria Universidade Federal do Paraná. Os mesmos também abraçavam a responsabilidade de divulgar os produtos aqui fabricados, participando de feiras e exposições nacionais e internacionais e recebendo, em suas casas, visitas ilustres como a da Princesa Isabel e a do presidente Afonso Pena.



Texto extraído de: https://www.gazetadopovo.com.br/haus/brde-palacete/200-anos-depois-da-classificacao-pela-botanica-erva-mate-ainda-faz-historia/
Fonte Imagem: https://www.gazetadopovo.com.br/haus/brde-palacete/200-anos-depois-da-classificacao-pela-botanica-erva-mate-ainda-faz-historia/

CULT COFFEE

  Fonte Imagem: https://unsplash.com/pt-br/fotografias/cafeteira-branca-e-prateada-N0qKzNAC7Go