sábado, 30 de abril de 2022

CAFÉ DA ROÇA COM GOSTO DE ANTIGAMENTE


Filmado no Bairro do Serrano em São Bento do Sapucaí SP, no Engenho Velho Delícias da Roça. Neste pequeno pedaço de paraíso, escondido nas montanhas, os donos insistem ainda em manter alguns fazeres de antigamente, tais como doces, rapadura, melado, fubá de moinho de pedra, broas caseiras e o delicioso café torrado no fogão de lenha e pilado em um antigo pilão de madeira. O Engenho Velho tem moinho, monjolo, fornalha, fogão de tacho e um antigo engenho onde é moída a cana para a rapadura. 

O local está aberto para visitação todos os dias da semana, mas o ideal é agendar uma visita num dia em que há atividade ou então para combinar um gostoso café caipira com bolos, roscas, geléias e queijo mineiro feito ali mesmo.



SOCANDO CAFÉ NO PILÃO, TORRANDO E COANDO NA HORA

Vídeo de um Brasil Profundo como memória de nossa gente, nossos costumes e nossa terra...

COMO IDENTIFICAR UM CAFÉ FORTE OU FRACO?


Você já percebeu que quando prepara um café, a bebida pode se apresentar com cores diferentes na xícara? Algumas bebidas são bem claras, lembrando tons encontrados em chás (e por isso temos a impressão que estamos tomando um “chafé”). Em compensação, outros cafés são mais fortes, deixando a bebida bem escura quando servida.

Essas diferenças de cores muitas vezes nos fazem achar que um café é mais forte ou mais fraco, mas muitas vezes não são elas as responsáveis por definir essa característica da bebida.
Como saber se é um café forte ou mais fraco? Com a ajuda da nossa especialista em Cafés, Eliana Relvas, preparamos algumas dicas para você!


O PAPEL DA TORRA NO GRÃO DE CAFÉ


Sabemos que para obter uma bebida saborosa, o café deve ser torrado e preparado adequadamente.

O processo de torra consiste em submeter os grãos crus a uma determinada temperatura por um certo tempo. Dessa maneira, é possível obter as reações físico-químicas necessárias para o desenvolvimento de aromas e sabores.

Entretanto, a mesma matéria-prima (isto é, o mesmo café, verde ou cru) oferecer sabores diferentes dependendo da sua torra.


TORRAS CLARAS, CAFÉS ESPECIAIS E GRÃOS ARÁBICA

Quando falamos de cafés especiais e 100 % arábicas e torras claras é natural obter uma bebida mais clara e translúcida, sem oleosidade na superfície. Ao degustar estes cafés, portanto, é importante levar em consideração as principais características de seu paladar: doçura, pouco amargor e acidez. Ao servi-los na xícara, você vai perceber que sua coloração é mais clara e translúcida.

Eles são recomendados para quem aprecia cafés mais suaves, com maior acidez, finalização mais rápida e pouco aroma.

Para quem não é muito fã do café mais “fraco”, uma dica pode ajudar a apreciá-lo melhor: esses cafés são consumidos, preferencialmente, sem a adição de açúcares e muitas vezes em temperaturas mais baixas, visto que é delicada e adocicada.


TORRAS ACENTUADAS, BLENDS E GRÃOS ROBUSTA OU CONILLON

As bebidas que possuem cores mais escuras nas xícaras são resultado de torras mais acentuadas e blends (feitos com grão robusta ou conilon). Esses tipos de café têm maior concentração de “sólidos solúveis”, que são responsáveis por reforçar a cor da bebida. Sua cor lembra a de chocolates amargos e os grãos podem apresentar um pouco de oleosidade antes de ser moídos.

Essa característica também é responsável por dobrar sua concentração de cafeína e garantir sabores mais intensos para a bebida, com notas mais amargas, levemente achocolatadas, baixa acidez e uma finalização mais prolongada. Alguns toques de queimado também podem ser percebidos.


TORRA MÉDIA: INDICADA PARA TODOS OS TIPOS DE GRÃOS

A torra média é a mais indicada para ser aplicada aos grãos de café. Seu aspecto visual remete a chocolate ao leite.

Nesse tipo de torra a acidez dos grãos é mais equilibrada, o amargor é agradável e apresenta bom corpo. O resultado visual esperado após o preparo da bebida é de uma cor marrom médio, lembrando um chocolate ao leite. Ele não é claro, a ponto de ficar transparente, e nem tão escuro.


OUTROS ASPECTOS INFLUENCIAM NA COLORAÇÃO E SABOR DO CAFÉ


Não é só o tipo de grão ou torra que pode influenciar na coloração ou sabor da sua bebida. Outros detalhes também podem mudar a maneira como você percebe o seu café:


TIPOS DE CAFETEIRAS

As cafeteiras que deixam o café em mais tempo em contato com a água – como French Press, italiana ou moka – produzem bebidas mais escuras e de sabor marcante. Para as que são preparadas em filtros de papéis, as bebidas são mais claras.


MOAGEM DO PÓ DE CAFÉ


O café pode ser moído em grãos de 
diversos tamanhosQuanto mais fina a moagem, maior a área de exposição do pó na água. Por isso, grãos pequenos produzem bebidas mais escuras e marcantes. As moagens grossas, com grãos maiores, produzem bebidas mais claras e delicadas.


TEMPERATURA DA ÁGUA

Quanto mais elevada a temperatura da água que vai entrar em contato com o café, maior capacidade de extrair características do grão ela terá e, consequentemente, de produzir mais sólidos e bebidas mais escuras.



LEMBRE-SE: A COR DO CAFÉ NÃO É DETERMINANTE PARA ELE SER FORTE

A cor de um café pode variar entre tons de canela, até de chocolates amargos. Isso, entretanto, não vai determinar um sabor ou aroma mais forte ou mais fraco.

Para perceber essas características é preciso estar aberto à degustação da bebida, independentemente da sua cor. Assim, você pode verificar todos os atributos que vão aparecer: corpo, acidez, amargor, doçura, equilíbrio da bebida e finalização no paladar.


Texto extraído de: https://content.paodeacucar.com/prazer-de-comer-e-beber/cafe-forte-ou-fraco
Fonte Imagem: https://content.paodeacucar.com/prazer-de-comer-e-beber/cafe-forte-ou-fraco

TORRADOR DE CAFÉ: ARTEFATO MUITO PRESENTE NAS ROÇAS BRASILEIRAS

 


Torrador de café, uma das antiguidades muito utilizadas desde o Brasil Colônia, até meados de século XX; em diversas regiões do Brasil.

Ele era um utensílio muito presente nas cozinhas das nonas, que torravam o café no torrador, aquecido pelo fogo do fogão a lenha, que impregnava o ambiente, com o perfume dos grãos e com o forte cheiro da fumaça. Havia outras opções mais rudimentares que tinham o mesmo objetivo.

Após ficar aproximadamente 40 minutos no recipiente, os grãos eram resfriados e posteriormente moídos, em pequenas porções em moinhos manuais. O pó do café era colocado no mancebo, que recebia a água fervente adoçada com a tradicional rapadura.


O ponto ideal da torra do café se baseava na coloração da fumaça exalada e do odor característico dos grãos. O barulho incomodava; além de esquentar muito quem manipulava o artefato, mas era a garantia da bebida quente tão apreciada pelos brasileiros.


COMO ERA O TORRADOR DE CAFÉ?

O artefato era confeccionado de metal e madeira, em formato esférico, movido por uma manivela, que girava lentamente os grãos, em movimentos circulares, para evitar que eles ficassem queimados; além de garantir uma torra uniforme.

O recipiente esférico que tinha contato com o fogo, era ligado à manivela em aço, que ao final dela tinha uma proteção madeira, que o fazia girar. A proteção era de madeira para evitar o aquecimento; além da proteção das mãos de quem a movia.

O utensílio possuía uma haste, que servia para abri-lo para colocação dos grãos; além do fechamento da bola, com o objetivo de prender os grãos a serem torrados.

A bola tinha como sustentação uma panela redonda, sem fundo, para garantir que o fogo tivesse contato com a esfera que girava. A panela colocada na trempe do fogão era segurada por uma haste. Outra haste era ligada à esfera para movimentação, enquanto a da panela era segurada para mantê-la sobre a chama do fogo.

 

EVOLUÇÃO DO ARTEFATO

Os torradores de café passaram por diversas transformações até chegar ao modelo esférico tão utilizado no Brasil, que perdeu sua função sendo substituído por moedores elétricos e mais rápidos, que são encontrados nas modernas cafeterias.

Mas, independente de seu formato, ele ajudou muito na comercialização dos grãos e na preparação do cafezinho, que é uma das bebidas mais populares no Brasil e no mundo.


ONDE ENCONTRAR O TORRADOR DE CAFÉ?

O torrador de café atualmente é encontrado em museus da zona rural; ou em locais que têm o turismo rural como atrativo principal.
 

A IMPORTÂNCIA DO CAFÉ PARA O BRASIL

 A lavoura de café foi responsável pelo desenvolvimento do Brasil, de 1840 a 1889, sendo inicialmente responsabilidade dos escravos traficados para o Brasil. Eles plantavam, colhiam, lavavam, secavam e ensacavam os grãos.


Posteriormente, os imigrantes começaram a fazer o serviço nas grandes fazendas de café, cuja cultura impulsionou melhoria dos meios de transporte, abertura de rodovias, construção de estradas de ferros; além do surgimento de vilas que deram origem às grandes cidades.


Texto extraído de: https://www.coisasdaroca.com/coisas-antigas-da-roca/torrador-de-cafe.html
Fonte Imagem: https://www.coisasdaroca.com/coisas-antigas-da-roca/torrador-de-cafe.html

 

OS PRIMEIROS BEBEDORES DE CAFÉ

Apresento mais um post sobre a Etiópia. De texto suscinto e fotos marcantes de grande sensibilidade. 

Belíssimo...


Texto extraído de: https://www.lavazza.com.br/pt_BR/quem-somos/training-center/experiencia-de-cafe/etiopia.html
Fonte Imagem: https://www.lavazza.com.br/pt_BR/quem-somos/training-center/experiencia-de-cafe/etiopia.html

O Coffea arabica foi encontrado originalmente na Etiópia e não no Brasil, como costumamos acreditar. Os etíopes são verdadeiros apreciadores de café. Há muitas lendas sobre suas origens: a história mais frequentemente contada é a do pastor Kaldi, que aprendeu sobre as propriedades revigorantes do café, observando as cabras que tinham pastado nas cerejas maduras da planta. Os descendentes diretos dos primeiros bebedores de café são agora os Oromas, uma tribo que vive na região de Kaffa há cerca de 500 anos. Os Oromas continuam a preparar o café da maneira tradicional, usando todas as partes comestíveis da planta: as folhas em uma infusão chamada kuti, as cascas na hoja (uma decocção diluída com leite) e grãos levemente torrados na bunna qela, um aperitivo energético com um significado simbólico profundo que também contém manteiga e sal. Em outras partes do país, a buna é o rito tradicional para preparar o café puro, que começa com grãos torrados em casa moídos em um pilão e finalmente preparado na jebena, um típico bule de café de barro da Etiópia.







ETIÓPIA: ONDE O CAFÉ É O NOSSO PÃO



Texto extraído de: https://www.graogourmet.com/blog/cafe-pelo-mundo-etiopia/

Falar de café na Etiópia é bem distinto do que falar de café em qualquer outra localidade das quais já contamos aqui no Café pelo Mundo. Isso porque a Etiópia é considerada o berço do café, e faz parte da história do café, ou seja, não existem histórias falando sobre a colonização deste país e a consequente chegada dos grãos de café introduzidos como uma cultura comercial.


UM POUQUINHO DE HISTÓRIA


O café é planta nativa aqui, até onde se sabe. E esta distinção faz com que a cultura do café seja intrínseca à cultura deste país, ao dia a dia de seus habitantes, desde tempos remotos onde árvores de café cresciam selvagens nas florestas e, eventualmente, cultivadas para uso doméstico e comercial.

O café ocupa um lugar sagrado na Etiópia – apenas o processo de cultivo e colheita de café envolve mais de 12 milhões de etíopes e produz mais de dois terços dos ganhos do país. O melhor café etíope pode ser considerado o melhor café do mundo, e os grãos arábica lavados de alta qualidade obtêm alguns dos preços mais altos do mercado mundial. Imagine nascer em um país onde o café está em todos os cantos, em todas as casas, com cerimônias, nos provérbios que você escuta dos seus avós… em tudo!

O café está na economia, na política, nos ritos, na linguagem…Na Etiópia o café é um modo de vida! 


CAFÉ DE JARDIM

consumo doméstico de café na Etiópia é muito alto justamente porque a bebida tem um papel extremamente importante na vida diária dos etíopes: cerca de metade da produção anual de 6,5 milhões de sacas é consumida em casa, com aproximadamente 3,5 milhões de sacas exportadas. Existem grandes propriedades privadas de produção de café para venda comercial, mas, a maioria dos agricultores deste país são famílias e os pés de café crescem em torno das casas, mais como um jardim e em uma floresta, diferente do que imaginamos como campos agrícolas.


VARIEDADES DE CAFÉ


Os cafés produzidos na Etiópia estão entre os mais variados e distintos do mundo, e pelo menos um deles, o Yirgacheffe, está entre os melhores.

A principal separação entre os grãos pode ser pelo método de processamento: seco (os grãos são secos dentro da fruta) e os processados em grande escala ​​pelo sofisticado método úmido, no qual a fruta é imediatamente removida dos grãos em uma série de operações complexas antes dos grãos serem secos.


SECAGEM DO CAFÉ



Na maior parte da Etiópia o processamento a seco é uma espécie de prática informal usada para processar pequenos lotes de café para consumo local. Em todo e qualquer lugar, até mesmo onde um único pé de café cresce, alguém pega a fruta e a seca. É muito amor e devoção pelo café!

Existem três principais regiões produtoras de café na Etiópia que doam seu nome às três principais variedades da café:   YirgacheffeSidamo e Harrar.

A Yirgacheffe é um dos cafés mais bem cotados do mundo, processado de forma úmida. A Yirgacheffe é produzida na mesma região da Sidamo, mas sua maior qualidade e reconhecimento fazem com que estejam categorizados separadamente. Os grãos de café verde Sidamo são frequentemente mais baratos do que os seus equivalentes Yirgacheffe, mas refletem um valor melhor em termos de preço-qualidade. A Harrar é processada a seco e seria o café de segunda classe da Eitiópia. É um café de sabor parecido com o produzido pelo Iêmen e é frequentemente chamado e conhecido por Mocha ou Moka.

Uma categorização mais específica divide a Etiópia em nove regiões de cultivo distintas: Yirgacheffes, Sidamo, Harrar, Bebeka, Teppi, Limu, Djimma, Illubabor, Lekempti, Wellega e Gimbi.

A maioria dos cafés da Etiópia é cultivada sem o uso de produtos químicos agrícolas nas condições mais favoráveis: sob a sombra e interplantados com outras culturas. As únicas exceções são um punhado de cafés processados ​​por via úmida, produzidos por grandes propriedades privadas ou administradas pelo governo no sudoeste da Etiópia, que fazem uso discreto de produtos químicos. Os métodos naturais de cultivo (incluindo o controle de pragas) tornaram a Certificação Orgânica uma marca registrada do café etíope.


CERIMÔNIA DO CAFÉ

Em um mundo onde o tempo há muito se tornou uma mercadoria, a cerimônia etíope do café nos leva à uma época em que o valor era dado à conversação e às relações humanas. Realizada pelo menos três vezes ao dia, a cerimônia é mais comumente conduzida pela mulher da casa, que se utiliza de seu vestido branco com bordas de tecido colorido. São, ao mínimo, três rodadas de café, cada uma com seu significado. Ao visitar a Etiópia se convidado para um café, não deixe de apreciar o sagrado ritual.

Aqui você pode assistir uma cerimônia do café etíope
 


MITO DA ORIGEM DO CAFÉ

A origem do café é cercada de lendas e mitos e a mais conhecida é a de Kaldi, um pastor de cabras de Kaffa. Na época que ocorre a lenda, a Etiópia ainda se chamava Abissínia. Conta-se que Kaldi estava pastoreando suas cabras através de uma área montanhosa perto de um mosteiro. Ele notou que elas estavam se comportando muito estranhamente naquele dia, e começaram a pular de uma maneira excitada, balindo alto e praticamente dançando em suas pernas traseiras.

Ele descobriu que a fonte da excitação era um pequeno arbusto com frutos vermelhos brilhantes. Ele ficou extremamente curioso e comeu as frutas. Como as cabras, Kaldi sentiu os efeitos energizantes das cerejas de café. Depois de encher os bolsos com as frutas vermelhas, ele correu para sua esposa em casa, e ela o aconselhou a ir ao mosteiro próximo a fim de compartilhar esses frutos “enviados do céu” com os monges. Ao chegar ao mosteiro, os grãos de café de Kaldi não foram saudados com alegria, mas com desdém. 


Um monge chamou a recompensa de Kaldi de “o trabalho do diabo” e jogou-o no fogo. No entanto, o aroma dos grãos torrados foi suficiente para fazer os monges darem a esta novidade uma segunda chance. Eles removeram o café do fogo, esmagaram-no para apagar as brasas brilhantes e cobriram-nas com água quente em um jarro para preservá-las. Todos os monges do mosteiro cheiravam o aroma do café e vinham experimentá-lo. Assim como os monges budistas que bebiam chá da China e do Japão, esses monges descobriram que os efeitos edificantes do café eram benéficos para mantê-los despertos durante a prática espiritual de orações e devoções santas. Eles prometeram que a partir de então eles beberiam essa bebida recém-descoberta a cada dia como uma ajuda para suas devoções religiosas.

Esta história tem seus primeiros registros escritos em 1671 e é, portanto, considerada apócrifa, e não uma história verdadeira da origem do café. Mas…vai saber, né?

Acredita-se que o personagem lendário de Kaldi teria existido por volta de 850 d.C. Esse relato coincide com a crença comum de que o cultivo do café começou na Etiópia por volta do século IX. No entanto, alguns acreditam que o café foi cultivado desde 575 a.c. no Iêmen.

A lenda de Kaldi, seus bodes e os monges sugerem que o café foi descoberto como estimulante e como bebida no mesmo dia. No entanto, é muito mais provável que os grãos de café tenham sido mastigados como estimulantes durante séculos antes de serem transformados em bebidas.

O grão pode ter sido moído e misturado com ghee (manteiga clarificada) ou com gordura animal para formar uma pasta grossa. Isso teria sido rolado em pequenas bolas e consumido conforme necessário para energia em viagens longas.

Alguns historiadores acreditam que esse costume de mascar grãos de café foi trazido (juntamente com o próprio café) de Kaffa para Harrar e Arábia por escravos sudaneses que mastigavam café para ajudar a sobreviver às árduas jornadas das rotas de comércio de escravos muçulmanos. Supostamente, os escravos sudaneses adquiriam esse costume de mascar café da tribo Gala da Etiópia.

Hoje, a tradição de consumir café moído em ghee permanece em algumas áreas de Kaffa e Sidamo. Da mesma forma, em Kaffa, algumas pessoas adicionam um pouco de manteiga clarificada ao seu café para torná-lo mais denso nutricionalmente e adicionar sabor (um pouco parecido com o chá da manteiga do Tibete). Segundo algumas fontes, havia também uma maneira de comer café como mingau. Este método de consumo de café pode ser visto entre várias outras tribos indígenas da Etiópia por volta do século X. Gradualmente, o café ficou conhecido como bebida na Etiópia e além.


EXPRESSÔES DO CAFÉ ETÍOPE

Talvez um antigo provérbio descreva melhor o lugar do café na vida etíope: “Buna dabo naw”, que quando traduzido significa “Café é o nosso pão!”.

Ele demonstra o papel central que o café desempenha em termos de dieta e ilustra o nível de importância atribuído a ele como fonte de sustento. Provavelmente uma das reflexões mais claras do papel do café na cultura etíope esteja em sua linguagem. O café desempenha um papel tão arraigado nesta cultura que aparece em muitas expressões que lidam com a vida, comida e relações interpessoais.

Outro ditado comum é “Buna Tetu”. Esta é uma frase amárica que literalmente significa “Beba café”.

Aplica-se não apenas ao ato de beber café, mas também à socialização. Se alguém diz: “Eu não tenho ninguém para tomar café”, não é tomado literalmente, mas significa que a pessoa não tem bons amigos em quem possa confiar. Isso se relaciona de perto com o enorme papel social que o consumo de café desempenha na Etiópia e com o fato de que muitas vezes as pessoas se reúnem tomando café para conversas que cobrem a vida cotidiana, a fofoca e questões mais profundas. Da mesma forma, se alguém disser “Não deixe seu nome ser notado na hora do café”, isso significa que você deve ficar atento à sua reputação e evitar ser o assunto de fofocas negativas.


CAFÉ E POLÍTICA

O conflito em desenvolvimento na Etiópia tem sido apenas uma nota de rodapé nos jornais. A manifestação do atleta etíope Feyisa Lilesa nas Olimpíadas do Rio ao cruzar a linha de chegada com o símbolo do braço cruzado em forma de protesto, conta para o mundo o que raramente encontramos informações nos jornais: a disputa étnica que ocorre há séculos neste país e a desapropriação massiva de pessoas de suas terras pelo governo para empresas privadas. Então, como podemos desfrutar tranquilos de um café quando há conflitos por trás da produção da safra?

A economia etíope é fortemente dependente do comércio de seus principais produtos. Entre os bens transacionáveis ​​limitados do país, somente o café gera cerca de 60% do total das receitas de exportação da Etiópia.

A forte reputação de seus cafés comandam um preço de varejo muito alto no mercado internacional. No entanto, apenas 5 a 10 por cento do preço de varejo realmente retorna à Etiópia; a maior parte do lucro é compartilhada por distribuidores e intermediários no setor de marketing. Nos países ricos, uma xícara de cappuccino pode ser vendida por US$ 4, mas muitos cafeicultores na Etiópia e outros países em desenvolvimento ganham menos de um dólar por dia.

O governo etíope buscou formas, por meio do registro das marcas de café, de fazer com que parte do faturamento com os grãos ficassem no país. A Starbucks estava entre as empresas que fizeram parte de um conflito sobre este tema no início dos anos 2000. Em 2007 o governo da Etiópia e a Starbucks assinaram um acordo sobre a propriedade intelectual dos cafés. Questão polêmica que ainda não chegou de fato ao fim.

O ponto que continua a ressoar: estes acordos chegam a impactar a vida dos produtores mais pobres do país?

A comercialização de produtos Fairtrade foi um dos caminhos encontrados no exercício de tornar o processo de produção e consumo de café mais justo. Porém, esta forma de produção também é questionada se é de fato eficiente, especialmente por não transformar as estruturas que sustentam as desigualdades. São questões complexas que precisam de mais atenção e pessoas dedicadas a olhar e atuar nestas transformações.

Para conhecer mais sobre a relação dos etíopes com o café vale a pena assistir ao vídeo “Há só café” – Um tributo cinematográfico aos mestres cafeeiros da Etiópia

Ao contrário da maioria das regiões produtoras de café do mundo, as pessoas que cultivam o café na Etiópia também bebem o produto. Há muito considerado o berço da bebida, a Etiópia produz alguns dos melhores. Este pequeno filme é uma canção de amor ao café, o trabalho árduo que é usado para produzi-lo e a importância das pequenas fazendas e a cooperação nesse processo.

E para mergulhar mais fundo nesta relação, o livro “Coffee Story: Ethiopia” de Maika Burhardt parece um delicioso caminho. Veja um vídeo sobre a produção do livro e curtir um pouquinho dessas águas profundas.



Fonte Imagem: https://www.graogourmet.com/blog/cafe-pelo-mundo-etiopia/

COMO O PROCESSAMENTO AFETA A QUÍMICA E O SABOR DO CAFÉ

Por que um café com processamento natural tem um sabor diferente de um lavado? E o que torna os cafés honey tão doces? O método de processamento tem um grande impacto no sabor, aroma e corpo do café.


Texto extraído de: 
https://perfectdailygrind.com/pt/2020/10/16/como-o-processamento-afeta-a-quimica-e-o-sabor-do-cafe/


A ORIGEM DO AROMA E DO SABOR DO CAFÉ

O sabor e o aroma do café são desenvolvidos durante a torra. Os compostos voláteis aromáticos são produzidos por transformações dos produtos químicos que ocorrem naturalmente nos grãos de café verde.

A degradação de açúcares e polissacarídeos simples durante a torra cria aromas doces e caramelizados. Em contraste, a degradação dos ácidos hidroxicinâmicos (um tipo de composto fenólico) produz aromas condimentados. Hidroxi-aminoácidos, como treonina e serina, são transformados em compostos voláteis chamados pirazinas e pirróis, que criam o cheiro característico de café torrado.

Mas o que isso tem a ver com processamento? A escolha do método de processamento influencia na quantidade de cada um desses componentes químicos presentes quando o grão chega à máquina de torra e, portanto, tem um efeito sobre quais precursores de aroma são criados e em que quantidades.


COMO O PROCESSAMENTO ALTERA A QUÍMICA DO CAFÉ?

As cerejas do café geralmente contém duas sementes, que são cercadas pela camada de mesocarpo e mucilagem, mais conhecida como polpa, assim como o exocarpo, ou casca. A polpa de uma cereja de café contém muitos açúcares.

O processamento é simplesmente o método usado para remover as sementes ou grãos de café da polpa e da casca. Existem diferentes tradições e inovações em todo o mundo, mas o café geralmente é processado pelo método natural ou pelo método lavado.

Durante o método natural, os grãos são secos inteiramente em sua forma natural, com a casca e a polpa intactas. O processo de lavagem remove todos os resíduos moles do fruto, tanto a casca quanto a polpa, antes de o café secar. Os processamentos honey ou cereja descascado são um meio termo, no qual a casca da fruta é removida antes da secagem dos grãos, mas quase toda a polpa permanece nos grãos.

O método de processamento faz diferença no sabor e no aroma, porque os açúcares da polpa deixados nos grãos naturais ou honey sofrem alterações metabólicas que mudam significativamente a composição química dos grãos verdes. Essas reações criam doçura e corpo na xícara final. Vamos dar uma olhada no que acontece.


>> Germinação
As cerejas do café são colhidas quando maduras, o que significa que as sementes no interior estão prestes a iniciar o processo de germinação. A germinação ativa algumas enzimas que metabolizam polissacarídeos – ou seja, os açúcares naturais começam a se decompor.

Os pesquisadores descobriram que há mais atividade enzimática durante o processamento lavado do que no processamento natural. Isso significa que mais açúcares livres e outros compostos que são transformados em compostos produtores de aroma na torrefação são consumidos no processamento lavado. O resultado é que os cafés lavados são mais nítidos no paladar que os naturais. Eles têm menos compostos aromáticos, mas mais acidez.

>> Fermentação
Os cafés naturais são mais doces do que os lavados em grande parte devido à fermentação de açúcares na polpa. Os cafés lavados e os naturais sofrem fermentação, mas há muito menos material para as enzimas trabalharem nos cafés lavados porque a polpa foi removida.

Durante a fermentação, os micróbios modificam proteínas, carboidratos e ácidos clorogênicos. Mais precursores de compostos aromáticos são criados em cafés naturais. O resultado não é apenas doçura, mas notas frutadas, florais e de caramelo na xícara final. Em comparação, os cafés lavados são mais limpos e revelam mais notas individuais daquele café em particular.

O processamento honey inclui a remoção da casca da cereja, o que permite uma melhor fermentação da mucilagem ao redor do grão. Isso resulta em uma doçura mais pronunciada nos cafés honey do que nos naturais, com mais aromas amanteigados e notas de castanhas.


A fermentação pode fazer uma grande diferença no sabor, aroma e corpo, mas precisa ser cuidadosamente controlada. A fermentação excessiva pode criar muitos ácidos acéticos e compostos fenólicos, o que tornará a xícara final amarga ou azeda. E como a população de microflora presente no café é densa e diversificada, a fermentação pode se mostrar inconsistente e imprevisível.

Grãos que experimentam períodos mais longos de germinação e menos fermentação podem apresentar piores resultados na xícara. Ambas as transformações contribuem para uma boa xícara final.



O IMPACTO DO MÉTODO DE PROCESSAMENTO NA TÉCNICA DE TORRA 

Já sabemos que o processamento afeta a química do grão verde, mas que a torra transforma esses produtos químicos em compostos produtores de aroma. É importante pensar no método de processamento na hora de torrar.

O café natural preserva mais açúcares, o que o torna mais sensível ao calor durante a torra. As moléculas simples de açúcar podem se degradar rapidamente durante a torra e produzir sabores queimados indesejáveis. Isso significa que o torrefador precisa ter mais cuidado em sua curva de torra, especialmente durante os estágios iniciais.

O café lavado é um dos tipos mais comuns e populares na indústria cafeeira. Este método de processamento produz uma xícara limpa, permitindo que você prove todas as nuances da origem e da variedade. Mas muitas pessoas desfrutam de cafés naturais e honey pela doçura e notas frutadas. Qualquer que você escolha, agora você está um pouco mais familiarizado com o que realmente acontece durante o processamento para criar o perfil que você gosta.


Fonte Imagem: https://perfectdailygrind.com/pt/2020/10/16/como-o-processamento-afeta-a-quimica-e-o-sabor-do-cafe/