UM POUQUINHO DE HISTÓRIA
O café é planta nativa aqui, até
onde se sabe. E esta distinção faz com que a cultura do café seja intrínseca à
cultura deste país, ao dia a dia de seus habitantes, desde tempos remotos onde
árvores de café cresciam selvagens nas florestas e, eventualmente, cultivadas
para uso doméstico e comercial.
O café ocupa um lugar sagrado na Etiópia – apenas o processo
de cultivo e colheita de café envolve mais de 12 milhões de etíopes e produz
mais de dois terços dos ganhos do país. O melhor café etíope pode ser
considerado o melhor café do mundo, e os grãos arábica lavados de alta
qualidade obtêm alguns dos preços mais altos do mercado mundial. Imagine nascer
em um país onde o café está em todos os cantos, em todas as casas, com
cerimônias, nos provérbios que você escuta dos seus avós… em tudo!
O café está
na economia, na política, nos ritos, na linguagem…Na Etiópia o café é um modo
de vida!
CAFÉ DE JARDIM
CAFÉ DE JARDIM
O consumo doméstico de café na Etiópia é muito alto justamente porque a bebida tem um papel extremamente importante na vida diária dos etíopes: cerca de metade da produção anual de 6,5 milhões de sacas é consumida em casa, com aproximadamente 3,5 milhões de sacas exportadas. Existem grandes propriedades privadas de produção de café para venda comercial, mas, a maioria dos agricultores deste país são famílias e os pés de café crescem em torno das casas, mais como um jardim e em uma floresta, diferente do que imaginamos como campos agrícolas.
VARIEDADES DE CAFÉ
Os cafés produzidos na Etiópia
estão entre os mais variados e distintos do mundo, e pelo menos um deles, o Yirgacheffe,
está entre os melhores.
A principal separação entre os grãos pode ser pelo método de processamento: seco (os grãos são secos dentro da fruta) e os processados em grande escala pelo sofisticado método úmido, no qual a fruta é imediatamente removida dos grãos em uma série de operações complexas antes dos grãos serem secos.
SECAGEM DO CAFÉ
Na maior parte da Etiópia o
processamento a seco é uma espécie de prática informal usada para processar
pequenos lotes de café para consumo local. Em todo e qualquer lugar, até mesmo
onde um único pé de café cresce, alguém pega a fruta e a seca. É muito amor e
devoção pelo café!
Existem três principais regiões
produtoras de café na Etiópia que doam seu nome às três principais variedades
da café: Yirgacheffe, Sidamo e Harrar.
A Yirgacheffe é um dos cafés mais
bem cotados do mundo, processado de forma úmida. A Yirgacheffe é produzida na
mesma região da Sidamo, mas sua maior qualidade e reconhecimento fazem com que
estejam categorizados separadamente. Os grãos de café verde Sidamo são
frequentemente mais baratos do que os seus equivalentes Yirgacheffe,
mas refletem um valor melhor em termos de preço-qualidade. A Harrar é
processada a seco e seria o café de segunda classe da Eitiópia. É um café de
sabor parecido com o produzido pelo Iêmen e é frequentemente chamado e
conhecido por Mocha ou Moka.
Uma categorização mais
específica divide a Etiópia em nove regiões de cultivo distintas: Yirgacheffes,
Sidamo, Harrar, Bebeka, Teppi, Limu, Djimma, Illubabor, Lekempti, Wellega e
Gimbi.
A maioria dos cafés da Etiópia é
cultivada sem o uso de produtos químicos agrícolas nas condições mais
favoráveis: sob a sombra e interplantados com outras culturas. As únicas
exceções são um punhado de cafés processados por via úmida, produzidos por grandes
propriedades privadas ou administradas pelo governo no sudoeste da Etiópia, que
fazem uso discreto de produtos químicos. Os métodos naturais de cultivo
(incluindo o controle de pragas) tornaram a Certificação Orgânica uma
marca registrada do café etíope.
CERIMÔNIA DO CAFÉ
Em um mundo onde o tempo há muito se tornou uma mercadoria, a cerimônia etíope do café nos leva à uma época em que o valor era dado à conversação e às relações humanas. Realizada pelo menos três vezes ao dia, a cerimônia é mais comumente conduzida pela mulher da casa, que se utiliza de seu vestido branco com bordas de tecido colorido. São, ao mínimo, três rodadas de café, cada uma com seu significado. Ao visitar a Etiópia se convidado para um café, não deixe de apreciar o sagrado ritual.
Em um mundo onde o tempo há muito se tornou uma mercadoria, a cerimônia etíope do café nos leva à uma época em que o valor era dado à conversação e às relações humanas. Realizada pelo menos três vezes ao dia, a cerimônia é mais comumente conduzida pela mulher da casa, que se utiliza de seu vestido branco com bordas de tecido colorido. São, ao mínimo, três rodadas de café, cada uma com seu significado. Ao visitar a Etiópia se convidado para um café, não deixe de apreciar o sagrado ritual.
Aqui você pode assistir uma
cerimônia do café etíope
MITO DA ORIGEM DO CAFÉ
A
origem do café é cercada de lendas e mitos e a mais conhecida é a de Kaldi, um
pastor de cabras de Kaffa. Na época que ocorre a lenda, a Etiópia ainda se
chamava Abissínia. Conta-se que Kaldi estava pastoreando suas cabras através de
uma área montanhosa perto de um mosteiro. Ele notou que elas estavam se
comportando muito estranhamente naquele dia, e começaram a pular de uma maneira
excitada, balindo alto e praticamente dançando em suas pernas traseiras.
Ele
descobriu que a fonte da excitação era um pequeno arbusto com frutos vermelhos brilhantes.
Ele ficou extremamente curioso e comeu as frutas. Como as cabras, Kaldi sentiu
os efeitos energizantes das cerejas de café. Depois de encher os bolsos com as
frutas vermelhas, ele correu para sua esposa em casa, e ela o aconselhou a ir
ao mosteiro próximo a fim de compartilhar esses frutos “enviados do céu” com os
monges. Ao chegar ao mosteiro, os grãos de café de Kaldi não foram saudados com
alegria, mas com desdém.
Um monge chamou a recompensa de
Kaldi de “o trabalho do diabo” e jogou-o no fogo. No entanto,
o aroma dos grãos torrados foi suficiente para fazer os monges darem a esta
novidade uma segunda chance. Eles removeram o café do fogo, esmagaram-no para
apagar as brasas brilhantes e cobriram-nas com água quente em um jarro para preservá-las.
Todos os monges do mosteiro cheiravam o aroma do café e vinham experimentá-lo.
Assim como os monges budistas que bebiam chá da China e do Japão, esses monges
descobriram que os efeitos edificantes do café eram benéficos para mantê-los
despertos durante a prática espiritual de orações e devoções santas. Eles
prometeram que a partir de então eles beberiam essa bebida recém-descoberta a
cada dia como uma ajuda para suas devoções religiosas.
Esta história tem seus primeiros
registros escritos em 1671 e é, portanto, considerada apócrifa, e não uma
história verdadeira da origem do café. Mas…vai saber, né?
Acredita-se que o personagem
lendário de Kaldi teria existido por volta de 850 d.C. Esse
relato coincide com a crença comum de que o cultivo do café começou na Etiópia
por volta do século IX. No entanto, alguns acreditam que o café foi cultivado
desde 575 a.c. no Iêmen.
A lenda de Kaldi, seus bodes e os
monges sugerem que o café foi descoberto como estimulante e
como bebida no mesmo dia. No entanto, é muito mais provável que os grãos de
café tenham sido mastigados como estimulantes durante séculos antes de serem
transformados em bebidas.
O grão pode ter sido moído e
misturado com ghee (manteiga clarificada) ou com gordura animal para formar uma
pasta grossa. Isso teria sido rolado em pequenas bolas e consumido conforme
necessário para energia em viagens longas.
Alguns historiadores acreditam que esse costume de mascar grãos de café foi trazido (juntamente com o próprio café) de Kaffa para Harrar e Arábia por escravos sudaneses que mastigavam café para ajudar a sobreviver às árduas jornadas das rotas de comércio de escravos muçulmanos. Supostamente, os escravos sudaneses adquiriam esse costume de mascar café da tribo Gala da Etiópia.
Alguns historiadores acreditam que esse costume de mascar grãos de café foi trazido (juntamente com o próprio café) de Kaffa para Harrar e Arábia por escravos sudaneses que mastigavam café para ajudar a sobreviver às árduas jornadas das rotas de comércio de escravos muçulmanos. Supostamente, os escravos sudaneses adquiriam esse costume de mascar café da tribo Gala da Etiópia.
Hoje, a tradição de consumir café
moído em ghee permanece em algumas áreas de Kaffa e Sidamo. Da mesma forma, em
Kaffa, algumas pessoas adicionam um pouco de manteiga clarificada ao seu café
para torná-lo mais denso nutricionalmente e adicionar sabor (um pouco parecido
com o chá da manteiga do Tibete). Segundo algumas fontes, havia também uma
maneira de comer café como mingau. Este método de consumo de café pode ser
visto entre várias outras tribos indígenas da Etiópia por volta do século X.
Gradualmente, o café ficou conhecido como bebida na Etiópia e além.
EXPRESSÔES DO CAFÉ ETÍOPE
Talvez um antigo provérbio descreva melhor o lugar do café na vida etíope: “Buna dabo naw”, que quando traduzido significa “Café é o nosso pão!”.
Ele demonstra o papel central que
o café desempenha em termos de dieta e ilustra o nível de importância atribuído
a ele como fonte de sustento. Provavelmente uma das reflexões mais claras do
papel do café na cultura etíope esteja em sua linguagem. O café desempenha um
papel tão arraigado nesta cultura que aparece em muitas expressões que lidam
com a vida, comida e relações interpessoais.
Outro ditado comum é “Buna Tetu”. Esta é uma frase amárica que literalmente significa “Beba café”.
Outro ditado comum é “Buna Tetu”. Esta é uma frase amárica que literalmente significa “Beba café”.
Aplica-se
não apenas ao ato de beber café, mas também à socialização. Se alguém diz: “Eu
não tenho ninguém para tomar café”, não é tomado literalmente, mas significa
que a pessoa não tem bons amigos em quem possa confiar. Isso se relaciona
de perto com o enorme papel social que o consumo de café desempenha na Etiópia
e com o fato de que muitas vezes as pessoas se reúnem tomando café para
conversas que cobrem a vida cotidiana, a fofoca e questões mais profundas. Da
mesma forma, se alguém disser “Não deixe seu nome ser notado na hora do
café”, isso significa que você deve ficar atento à sua reputação e evitar
ser o assunto de fofocas negativas.
CAFÉ E POLÍTICA
O conflito em desenvolvimento na Etiópia tem sido apenas uma nota de rodapé nos jornais. A manifestação do atleta etíope Feyisa Lilesa nas Olimpíadas do Rio ao cruzar a linha de chegada com o símbolo do braço cruzado em forma de protesto, conta para o mundo o que raramente encontramos informações nos jornais: a disputa étnica que ocorre há séculos neste país e a desapropriação massiva de pessoas de suas terras pelo governo para empresas privadas. Então, como podemos desfrutar tranquilos de um café quando há conflitos por trás da produção da safra?
A economia etíope é fortemente
dependente do comércio de seus principais produtos. Entre os bens
transacionáveis limitados do país, somente o café gera cerca de 60%
do total das receitas de exportação da Etiópia.
A forte reputação de seus cafés
comandam um preço de varejo muito alto no mercado internacional. No entanto,
apenas 5 a 10 por cento do preço de varejo realmente retorna à Etiópia; a maior
parte do lucro é compartilhada por distribuidores e intermediários no setor de
marketing. Nos países ricos, uma xícara de cappuccino pode ser vendida por US$
4, mas muitos cafeicultores na Etiópia e outros países em desenvolvimento
ganham menos de um dólar por dia.
O governo etíope buscou formas,
por meio do registro das marcas de café, de fazer com que parte do faturamento
com os grãos ficassem no país. A Starbucks estava entre as
empresas que fizeram parte de um conflito sobre este tema no início dos anos
2000. Em 2007 o governo da Etiópia e a Starbucks assinaram um acordo sobre a
propriedade intelectual dos cafés. Questão polêmica que ainda não chegou de fato
ao fim.
O ponto que continua a ressoar:
estes acordos chegam a impactar a vida dos produtores mais pobres do país?
A comercialização de produtos Fairtrade foi
um dos caminhos encontrados no exercício de tornar o processo de produção e
consumo de café mais justo. Porém, esta forma de produção também é questionada
se é de fato eficiente, especialmente por não transformar as estruturas que
sustentam as desigualdades. São questões complexas que precisam de mais atenção
e pessoas dedicadas a olhar e atuar nestas transformações.
Para conhecer mais sobre a relação
dos etíopes com o café vale a pena assistir ao vídeo “Há só café” – Um
tributo cinematográfico aos mestres cafeeiros da Etiópia
Ao contrário da maioria das regiões produtoras de café do mundo, as pessoas que cultivam o café na Etiópia também bebem o produto. Há muito considerado o berço da bebida, a Etiópia produz alguns dos melhores. Este pequeno filme é uma canção de amor ao café, o trabalho árduo que é usado para produzi-lo e a importância das pequenas fazendas e a cooperação nesse processo.
Ao contrário da maioria das regiões produtoras de café do mundo, as pessoas que cultivam o café na Etiópia também bebem o produto. Há muito considerado o berço da bebida, a Etiópia produz alguns dos melhores. Este pequeno filme é uma canção de amor ao café, o trabalho árduo que é usado para produzi-lo e a importância das pequenas fazendas e a cooperação nesse processo.
E para mergulhar mais fundo nesta relação, o livro “Coffee
Story: Ethiopia” de Maika Burhardt parece um delicioso caminho. Veja um vídeo sobre
a produção do livro e curtir um pouquinho dessas águas profundas.
Fonte Imagem: https://www.graogourmet.com/blog/cafe-pelo-mundo-etiopia/
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