O nicho das cafeterias
independentes está diante de mudanças profundas.
Fonte - Extraído de:
https://coffeeinsight.com.br/a-terceira-onda-do-caf%C3%A9-depois-da-nestl%C3%A9-7cbbcda45332
O que acontece quando um
mercado de nicho, construído por pequenas empresas e
caracterizado por produtos artesanais, desperta o interesse de companhias
multinacionais ávidas por crescimento?
A terceira onda do café passa por isso. O nicho, que há pouco
tempo era exclusivo de cafeterias independentes e pequenas redes de lojas,
entrou no radar de grandes empresas como Starbucks, JAB Holding e,
agora, Nestlé.
A companhia suíça
anunciou a compra da Blue Bottle, uma das pioneiras da terceira onda do
café nos EUA. A aquisição faz parte de uma estratégia da Nestlé para superar
os resultados fracos das suas vendas nos últimos tempos.
Cafeterias de terceira
onda: nicho em rápida expansão.
A Nestlé é líder mundial
em solúvel (Nescafé) e cápsulas (Nespresso e Dolce Gusto).
No entanto, as margens caíram e as vendas já não crescem tanto. Os acionistas
estão insatisfeitos com isso.
A empresa aposta em
nichos que estão em alta para reverter a situação. Um dia antes de comprar a
Blue Bottle, a Nestlé anunciou a aquisição da Sweet Earth, fabricante de
alimentos vegetarianos com sede na Califórnia, EUA, que cresce dois
dígitos por ano.
Feitas essas
considerações, duas questões importantes aparecem: primeiro, como será o
relacionamento entre a Blue Bottle e a Nestlé? Além disso, qual o impacto
dessa aquisição para a terceira onda do café? Ambas são discutidas a seguir.
Torrefadora da Blue
Bottle em Oakland, Califórina. Fonte: Blue Bottle.
Artesanal e industrial:
um blend difícil
O segmento de cafeterias
pode ser dividido quanto ao tamanho dos empreendimentos em dois tipos: a)
cafeterias independentes e pequenas redes de lojas; e b) grandes redes. É
interessante notar que os consumidores mais fiéis ao tipo a parecem
não gostar dos estabelecimentos do tipo b.
As lojas do tipo a oferecem
cafés de altíssima qualidade, obtidos a partir de microlotes selecionados,
com torra cuidadosa e preparo em diferentes métodos. Por serem empresas
pequenas ou médias, elas atraem a simpatia de pessoas que, por inúmeras razões,
não gostam das grandes.
A repercussão da
notícia nas redes sociais parece confirmar isso: muitos comentários
negativos. Clientes da Blue Bottle temem que, para atender os interesses dos
acionistas, a empresa adote uma série de medidas que irão prejudicar a
qualidade do produto final, o café.
Muitos consumidore
preferem as cafeterias independentes às grandes redes.
Para evitar isso, a
melhor estratégia para a Nestlé é manter a Blue Bottle da maneira como ela
é, uma empresa com foco em cafés de alta qualidade e operando com certa independência.
Ao que tudo indica, isso
será feito. A Nestlé já anunciou que a Blue Bottle permanecerá como uma
operação independente, liderada pelo seu fundador, James Freeman.
Também é importante que a
marca Blue Bottle não seja associada com as marcas tradicionais da Nestlé, já
que são mercados completamente distintos. Ou seja, nada de sachês de Nescafé ou
máquinas Nespresso à venda nas cafeterias. Nesse caso, o blend não fica
bom.
Com a visão do seu
fundador e os recursos financeiros da Nestlé, as perspectivas de crescimento
para a Blue Bottle são bastante otimistas.
As cápsulas Nespresso não
combinam com a proposta da Blue Bottle.
Locais x multinacionais
A terceira onda nasceu e
cresceu com cafeterias independentes. No entanto, a tendência atual é a
formação de redes com centenas de lojas atuando no segmento. A Starbucks planeja
ter mil lojas Reserve, um novo conceito de estabelecimento alinhado com a
proposta da terceira onda.
A JAB Holding, por
meio da Peet’s Coffee & Tea, pode impulsionar os negócios da Intelligentsia e
da Stumptown, duas redes que também foram precursoras da terceira onda nos
EUA. E com os recursos da Nestlé, a Blue Bottle pode chegar a mais de
duzentas lojas em pouco tempo.
Considerando a cadeia do
café como um todo, essa expansão é uma boa notícia. Ela significa que mais
consumidores terão acesso aos cafés especiais, com aumento da demanda. Empresas
que hoje estão na segunda onda talvez tenham que aumentar a qualidade
do café utilizado. Haverá muitas oportunidades para baristas
qualificados e fabricantes de equipamentos.
O crescimento da terceira
onda apresenta oportunidades.
Do ponto de vista das
cafeterias independentes, o mercado ficará mais disputado. Para elas, uma
loja McCafé, ou Dunkin’ Donuts, na mesma vizinhança não é uma ameaça.
Mas uma Blue Bottle já representa uma disputa direta pelo mesmo
perfil de consumidor.
Lojas independentes
sempre terão o seu público fiel, mas será preciso encontrar novos
diferenciais. Quando todo mundo trabalha com microlotes e prepara café numa
Chemex, é hora de inovar. Somente o tempo mostrará quais inovações surgirão
entre as cafeterias independentes.
Conclusões
A mudança mais evidente é
o desenvolvimento do nicho, proporcionado pela injeção de capital das grandes
empresas. Resta saber se, no longo prazo, as redes de cafeterias
comandadas por elas vão permanecer fieis às características da terceira onda.
Para as lojas
independentes, a concorrência será maior, o que pode levar ao surgimento de
inovações na busca por diferenciação. Essa evolução das cafeterias
independentes pode dar origem a uma nova onda do café.
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